A Pena
Não se lembra bem o ano em que aconteceu
Mas foi nos dias de sua meninice e juventude
Mudou-se para sua escola, pra ser mais exato na sua sala
E foi aí que em sua vida ela apareceu
Talvez tivesse passado despercebida por ele
Se tivesse feito as coisas diferentes do jeito que fez
Mas a vida faz ares de misteriosa nestes assuntos
E são raras as vezes que nos permite escolher
E anos mais tarde, não por uma ou duas vezes pensou assim
Em seu peito ela já ocupava lugar
Já estava feito, o peito ardia ao vê-la
Quem sabe não custava nada acreditar
Foi o sorriso? Os olhos de cor clara?
O cabelo cor de âmbar ou o jeito que dava bom dia?
Talvez o conjunto disto tudo
Misturado com sua grande ternura e carregada alegria
Mas era muito tímido
E ela mal sabia que ele existia
Logo os anos se passaram e seu anonimato
Aos olhos dela perdurou
Tornou-se ranzinza, um homem amargo
E o que o coração teimava em sentir
Logo o amaldiçoou
Ela casara, seguiu seu rumo
Já dele não possuía conhecimento
Com filhos e amável marido preencheu sua vida
Mas sequer sabia de seus lamentos
O tempo a passar, o sofrimento aumentou
E quando achava que seu "mal sem jeito"
Levá-lo-ia a loucura
Ficaste, a saber, de uma pena ao qual quem a empunhasse e palavras escrevesse
Talvez encontrasse o que chamavam de cura
Os afazeres que possuía
Logo tudo largou e a pena pôs a procurar
Durante o caminho por desafios e provações passou
Até finalmente a encontrar
A pena tornou-se extensão de seu corpo
E como tinta sorvia teu sangue
Sem descanso por várias noites seguidas
Escreveu histórias de amor, intensas, insinuantes
O "mal" que lhe corrói por dentro
Pelo pseudônimo de “amor” em vários livros se personificou
E logo o sucesso e crítica bateram-lhe a porta
Incontáveis são os que leram sobre seu sofrimento
Suas historias de “amor”
Histórias estas que existiram em seu âmago apenas
Todos lhe rasgavam elogios
Mas para sua tristeza, as palavras nunca chegaram até sua pequena
Irado, em um quarto escuro se trancou
E dali saiu sua última história
Ao escrevê-la, a pena, o resto de teu sangue drenou
O sopro da vida acabou
Mas ela não saiu de sua memória