O Rosto

Para Valéria Schneider

Teu rosto nu e fragmentado me exige

Mas ele não tem sentido quando creio que o vejo

No exato momento em que o instante o cinge

Não: engano-me.

A fotografia assim é inverossímil

Pois não é em si teu rosto uma forma irredutível

Todos os rostos e objetos são vazios

Enquanto eu não os preencho com a minha vida

Adequando-os ao passado e enbebedando-os para o infinito

Poderia apaixonar-me por este rosto? Poderia!

Mas teria de inventá-lo todo que até me afastaria

E não desvendaria o real sentido que teu olhar ainda me grita

Invento-o tanto que quando retorno ao objeto

- No antigo instante e ofegante que o cingia –

Encontro-o distante - dissonante e abjeto

Que nenhuma atração entre nós gravita

Mas, resistindo a tudo, é ainda ele a matéria prima

Que elabora o gozo transfigurante de uma obra prima

de Castro
Enviado por de Castro em 18/10/2006
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