O Rosto
Para Valéria Schneider
Teu rosto nu e fragmentado me exige
Mas ele não tem sentido quando creio que o vejo
No exato momento em que o instante o cinge
Não: engano-me.
A fotografia assim é inverossímil
Pois não é em si teu rosto uma forma irredutível
Todos os rostos e objetos são vazios
Enquanto eu não os preencho com a minha vida
Adequando-os ao passado e enbebedando-os para o infinito
Poderia apaixonar-me por este rosto? Poderia!
Mas teria de inventá-lo todo que até me afastaria
E não desvendaria o real sentido que teu olhar ainda me grita
Invento-o tanto que quando retorno ao objeto
- No antigo instante e ofegante que o cingia –
Encontro-o distante - dissonante e abjeto
Que nenhuma atração entre nós gravita
Mas, resistindo a tudo, é ainda ele a matéria prima
Que elabora o gozo transfigurante de uma obra prima