parcerias - Reinaldo Henrique
Reinaldo Henrique foi meu amigo e parceiro, juntos escrevemos três poemas. Isso ocorreu numa única tarde em fevereiro ou março de 92, no balcão de um boteco às margens do Minhocão.
BAILADO NOTURNO
Ninfetas nuas nas ruas
trazendo grandes sonhos
de adolescência prematura
Ah criatura, o que seria de mim
sem teus acordes de piano?
Prossigo acreditando na promessa
do teu retorno sem pressa, sem medo
Das catedrais do mundo minhas juras profundas
redundam em devaneios anárquicos
Vira-latas se equilibram no meio-fio
da inconstância urbana
Luzes refletem nossas cabeças
de encantamentos por Alice e marcianos
Procuro teu amor nas drogarias
e até no meu resto de bom senso
que ficou naquela taça durante a noite...
UM FILME SÓ PARA NÓS
Se soubesse o que passei
Noites vagas em teias de aranhas...
Meu coração teima no perfume de ilusão
do teu nariz de botão lilás
Meu coração não é mais meu nem está mais aqui
Ele se perdeu no dia que te perdi
Palavras doces...
são mentiras do silêncio que me agonizava
O que será do meu corpo sem o afeto circunflexo do teu sexo?
Outra hora canto a aurora...
mas agora, e em tudo, estou dizendo:
Vamos lá fora brincar?
A chuva cai tranqüila e os barquinhos atravessam a avenida
Vamos lá fora sonhar?
O tempo passa...
e percebo o ponteiro sorrateiro deslizar em diagonal
na matriz do meu ser
Nossas vidas escalam montanhas de vidro
que implodem fragmentos de universos obscuros
Levante tua saia-castidade
tire teu sapatinho de cristal
solte este louco desejo
vou lhe encher de beijos amarrotados de carência
Nossas intenções são perfeitas
O paraíso é como um gemido de sax
nos envolve e se dissolve no vento...
MOMENTOS MONUMENTOS
Fiquei com medo de pensar que não fosse te encontrar
Teu jeito louco de querer a vida provoca ferida de amar
A gente tenta acreditar em astrologia
mas o mapa astral desconhece
que você dança só para mim enquanto amanhece...
A insônia desenrolou meu peito cheio de defeito
Brincamos em praça pública, debaixo da chuva
Comprimidos alucinógenos...
Oprimidos somos nós
que fugimos para as esquinas do futuro
e esquecemos do brilho da aurora
Sentir-se mais velho, excesso de caspa
escorregar-se em sulfites rabiscados de canções tristes
acreditar em bondade humana
Poema sem cheiro...
O desespero para alcançar tua mão na correnteza do destino
O tênis sujo da caminhada de ontem
O tempo nos pinta feito out-door
Violão sem cordas
diz tudo ao contrário do meu sonho de astro...
Para onde vão os pássaros coloridos?
Por quê os jasmins se enferrujaram?
Onde está você, meu bem, meu baby?
Será que a cegonha se perdeu no controle da natalidade?
A lua definiu a paixão
Esquiamos em lágrimas congeladas
Eu amei
Eu amei
Cada sorriso clássico da estação...