PALHAÇO

A vida me envolveu em seu forte abraço

Minha carne com suas garras dilacerou

Esmagou meu corpo frágil em curto espaço

Meu ventre prenhe de esperança, desventrou

Com seu hálito de fogo fétido esbranquiçou

Meu cabelo tão enfraquecido e já escasso

Com mãos gélidas, tétricas, me agarrou

Cingindo-me para sempre ao seu regaço

Com seu olhar fantasmagórico paralisou

Meus músculos moles, flácidos do fracasso

E seu espesso sangue negro breu derramou

Cobriu meu corpo inerte do nojento melaço

À existência irreal, vegetativa me confinou

Sem que eu possa saber já aquilo que faço

Nas suas urdidas teias de morte me enredou

E fez de mim p’ra sempre um triste palhaço

1977

João Guerreiro
Enviado por João Guerreiro em 29/12/2010
Código do texto: T2697264
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