amar(g)o
um gosto amaro na boca
e o olhar sobressaltado
ante aos eventuais murmúrios
da travada seca de mim.
parece que o mar fechou-se
trancou as portas enfim
e não mais se ouvem em silêncio
os sons mistérios das marés.
vergonha de ser só eu
de ser somente o que não sou
de ter somente o que me falta
e carregar o soluço preso com um cego nó.
vergonha de me calar
a voz rouca muda e farta
da fartura que é tão pouca
e de mim suporta o pior.
na verdade a espera é insana
a certeza é prova de que nada há
e o desejo petrificado para sempre
na boca amarga
sem o gosto do perdão...