Partículas de minério

As partículas de minério que o vento sopra da mina

Invadem toda a cidade.

Cobrem os telhados do casario.

Cobrem os jardins

Cobrem as folhas das árvores.

Cobrem os gramados dos campos.

Cobrem as hortaliças dos quintais

Cobrem os bancos das praças.

Entram pelas frestas das janelas

das Igrejas.

Cobrem os altares.

Entram pelas frestas das janelas das nossas casas.

Cobrem os lençóis das nossas camas.

Cobrem as tolhas da mesa de jantar.

Entram pelas frestas das janelas de nossas escolas.

Cobrem as carteiras das salas de aulas.

Cobrem a mesa do nosso escritório.

Cobrem os balcões das vendas.

Cobrem as mesas dos botecos e restaurantes.

Cobrem os leitos dos hospitais.

Entram pelas nossas narinas.

Às vezes chegam até aos pulmões.

Flutuam no céu da cidade.

Durante o dia reluzem a luz do sol

Nas noites enluaradas reluzem a luz da lua.

Parecem milhares de vaga-lumes enfeitando os céus

da minha velha Itabira

As partículas de minério que o vento sopra da mina

Entram pela fresta dos túmulos dos cemitérios,

do Rosário do Cruzeiro e da Paz.

Misturam com a água da chuva.

Transformam-se em pedra.

Sela as campas de nossos queridos.

Marconi Ferreira
Enviado por Marconi Ferreira em 02/01/2011
Código do texto: T2704510