ALUCINAÇÃO - POEMA 102
UM A NAU DOURADA NAVEGANDO PELAS RUAS...
AS VELAS TENTANDO A UNIÃO DA MINHA ALMA...
O FOGO DEVORANDO TODO O MAR QUE RESTA-NOS.
ALUCINAÇÃO PELAS RUAS E VIELAS.
EU SIGO A MIM MESMO, ALQUEBRADO E ALEIJADO.
MEU SAPATO CANSADO ENSAIA UM FADO.
PRECISO COMER, O PRESENTE, O FUTURO E O PASSADO.
NESTA LISBOA REVISITADA.....
.
O MUNDO SE CONSTROI E DESCONTROI ANTE MEUS OLHOS.
SOU DEUS, O CRIADOR DE TUDO O QUE POSSO ENXERGAR....
LISBOA SE REDESENHA A NOIVA.
A MUSA PERDIDA SEM AS JOIAS DO IMPERIO
.
O QUE ENXERGO , OS MEUS OLHOS LOGO DEVORAM .
PARA NÃO TESTEMUNHAREM O FIM DO SOL .
A MORTE DO MAR E DAS LEMBRANÇAS.
A VIDA SEGUE FORTE DISTANTE , EM ALGUMN LUGAR.
O QUE ENXERGO AQUI É TODA A FRAGILIDADE DO MUNDO.
ONDE POSSO NEGAR O QUE VI, E O QUE NÃO VIVI.
AFIRMAR QUE SOU, QUEM EU NUNCA FUI.
O MUNDO NÃO ESTÁ AI PARA A MINHA ALUCINACÃO,
TAMPOUCO ENCANTADO COM A TUA FASCINAÇÃO.
A VIDA SEGUE A CANÇÃO QUE LHE INTERESSA.
LISBOA SEGUE A VIDA SEM PRESSA.
A BELEZA DA ALUCINAÇÃO É A SUA TOCANTE DESTRUIÇÃO.
AO MESMO TEMPO A CRIAÇÃO DE ALGUMA COISA.
SEJA QUALQUER COISA, A COISA QUE FOR O MUNDO...
IMPLAUSIVEL E SEM POSSIBLIDADE DE SOLUÇÃO.
ALI NUMA BANDEIJA, UM CASEBRE E UM PALACIO.
UMA TAÇA DE VINHO E UM RESTO DE CARNE DE COELHO.
ONDE PERCEBO O JOELHO DO MAR....VEJO TAMBÉM.
UNS POEMAS ENGRAÇADOS DE ALVARO.DE CAMPOS.
UNS POEMAS ENVIESADOS DE RICARDO REIS.
LISBOA REVISITADA EM ALUCINAÇÃO.
A ARQUITETUA DESTA MIRAGEM É FINA E MUITO INCOLOR.
ESTREITA COMO MUITAS RUAS QUE LISBOA ERA EM FLOR.
A MINHA SOMBRA SE AMPARA ENTRE PAREDES.
A MINHA ALUCINAÇÃO TEM SEDE DO MEU PROPRIO VOMITO.
DE VER LISOBA SERVIDA EM PRATOS FUMEGANTES.
NA ALUCINAÇÃO JUNTO-ME AS GENTES..
A MULTIDÃO COM PRATOS TRAZIDOS DAS CHOUPANAS.
OS ARCOS CONVERTIDOS EM BRAÇOS
SAÚDAM A TODOS OS QUE PASSAM EM SILENCIO.
SILENCIO ARISCO E MOURISCO.
LISBOA NEM BELA, NEM VELHA. APENAS LISBOA.
REVISITADA EM TODO O MEU AMOR
NOVA E VELHA LISBOA , O QUE SERÁ? VERTENTE, POENTE ?
NADA. TÃO SOMENTE A EXPOSIÇAÕ DO MEU VAZIO.
NOVA ALUCINAÇÃO EM MEU DESTINO.
HABITA-ME POR UNS INTANSTES OS SINOS.
QUE TOCAM NA ALMA DE UM MENINO.
NOS PASSOS QUE ELE DÁ ALUCINADO NA RUA RUMO AO NADA
LISBOA, JÁ NÃO O AMPARA. LISBOA ESTÁ MODIFICADA.
LISBOA ,NOVAMENTE REVISITADA...
AOS MEUS OLHOS, LISBOA TAMBÉM ESTÁ ALUCINADA.
ROSTO DE PEDRA EM REVISTA BURGUESA
NO INTERIOR DO CORPO. FUNGOS. BACTERIAS.
O TEMPO NÃO TE DEVOROU LISBOA, NÃO TE DEVORARÁ.
OS HOMENS CORRERÃO ATRÁS DOS OSSOS.
COMO EU AGORA, ALUCINADO,
LISBOA, NOVAMENTE REVISITADA
BEIJO A TUA BOCA VERDE-OLIVA
TU VOMITAS AS TUAS LUTAS NO TEJO
MOLHANDO O DESERTO ESTÉRIL A TUA VOLTA
ENQUANTO OS RELOGIOS DE BOLSOS RIEM DOS HOMENS...
LIBOA, NOVAMENTE REVISITADA
FICO, PORQUE AINDA NÃO CONSIGO ENTENDER-TE
MORRO EM TI, MAR DE TODAS AS MINHAS ÁGUAS
FICAMOS EU E TI, AO ABANDONO
POR QUÊ LISBOA ? ESCOLHESTES ENDURECER TEU ROSTO .
LISBOA, NOVAMENTE REVISITADA.
MAURICIO DE AZEVEDO
METEMPSICOSES - A ALMA DE FERNANDO PESSOA