Férias de Descartes
Todo dia eu penso que vai ser o fim do mundo
Olho para o céu às dezoito horas e me sinto aflito como se ele fosse cair
E há milhares de livros na estante que fecha a parede do quarto
O computador monotonamente ligado não presta pra animar
A cabeça gira; há um quadro extremamente chapado na parede
Cuspo pela janela pra ver se tudo está no lugar
O cuspe cai
Na minha cabeça
Uma gota
Duas gotas
Zero gotas
O céu desaba
Primeira hipótese, descarte,
segunda hipótese, descarte,
terceira hipótese, Descartes
E assim sucessivamente
Leio algo e me sinto reabastecido
Preciso descarregar
Ações desconexas porque não posso pensar
Não existo
Porém tudo está
A menos de um milímetro de alcance
O computador responde
Olá
Eu escorro e tropeço no pára-brisas
Que me espalha no quarto
Não é fácil me reagrupar
A quem recorrer?
Pausas semibreves
E a poesia retorna no contratempo
De uma melodia sincopada
Mas é muito besta tal pretensão
É como achar o não-pensado
As gotas brincam nas barbas do desconstrutor