Hoje grito de novo em surdina

Hoje grito de novo em surdina

Hoje que nada me anima

Rasgo à folha a brancura

E expulso da alma a loucura

E esta tristeza vaga quase banal

Que se acumula nos meus dias, letal

E me consome a alma lentamente

Numa dor constante e ardente

Hoje que nada me sustêm

Deito as esperanças à folha

Que não as quebra, que é ninguém

Hoje tentei em vão tirar do rosto

As tristezas que depois do sol-posto

A alma me levarão

Deixando o meu ser esquecido

Solto desgarrado mas perdido

Por onde os sonhos já não vão

Hoje grito da alma a saudade

De uma qualquer antiga tarde

Onde de azul um pedaço bastava

Onde o tempo mais leve e solto passava

Onde alegre sem razão sorria

E pelas ruas corria

Quase feliz sem o saber

E com a cruel vontade de crescer

Que me faz hoje gritar a morte

De mais esta criança sem sorte

Que perdendo-se no tempo

Se deixou levar no vento

E morreu em mim

Deixando-me apenas

A dolorosa lembrança do que perdi

Naquelas tardes serenas

Onde por crescer morri

Tiago Marcos

chomanno
Enviado por chomanno em 29/10/2006
Código do texto: T277095