Cotidiano

Tinha o olhar de carbono puro

E um coração aturdido.

Sagrou sua vida

em altar de espinhos.

Trazia consigo

pecados adquiridos

em caminhos desconhecidos.

Salmodiava, bajulando a alma

despertando na face

o que vem de dentro

e aquece e acalma e alucina.

Podia sentir as mãos

revelando anseios

em desnudos corpos

transbordando

antigos segredos.

Trazia talhado na carne

a certeza do proibido desejo

feito marca em gado de corte

ou tatuagem em lugar sagrado.

No calor da tarde vazia

faltou coragem,

despertou

e varreu a casa

limpando o chão e as chagas

que lhe ardia o coração.