Ilustração de Henrique Secundino.
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MIRÍADES DE PIRILAMPOS

Poema para ser recitado.
(Versos dodecassílabos. Acentuação na 4ª, 8ª e 12ª sílabas).


Pelos tranquilos arredores da aldeia,
Era festivo o nascer de um novo dia!
Sol causticante e céu azul pela manhã...
Manhã pesada de estranha calmaria!
Mas quando nuvens carregadas se formavam,
Algo frequente que então se repetia,
Era cruel e deprimente o prenúncio
De tempestade implacável e bravia!

Manifestava-se inclemente a canícula!
Vinha depois o aguaceiro tropical.
E desabavam lá do alto, como lágrimas,
Águas revoltas... um titânico caudal!
Entre relâmpagos, tremia minha alma
A contemplar o espetáculo brutal:
Flores e árvores caiam fulminadas...
Marcas terríveis do infausto temporal!

Depois da chuva, vinha tépido o sol...
Muito bem-vindo ao final da turbulência!
Maravilhava-me a douta natureza,
Tão grandiosa pela sua abrangência!
Enquanto pássaros voavam mansamente,
Silenciosos em sinal de reverência,
Eu esperava pela tarde inevitável
E o lusco-fusco como simples consequência!

A mergulhar-me no crepúsculo sombrio,
Vinham então velhas e loucas sensações.
Desapontado pela noite sem luar,
Resfolegava eu, repleto de paixões!
E solitário, eu enchia-me de tédio,
Na minha noite de amargas frustrações!
Enquanto trevas assombravam meu espírito,
Relampejavam pirilampos aos milhões!



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