Consciência

Rasguei as sedas da minha consciência,
tão meiga, silenciosa, cautelosa,
das angústias da minha existência me cobri,
e assim, desnudo e ao frio,
da real condição humana e desumana,
da desunida união,
na certeza mais certa do incerto,
do porvir,
do por fim,
dos sonhos alegres,
patéticos de esperança,
ao invés de ver-me, verme, enlouquecer,
me racionalizo ao nada.

Não, não sou coerente,
nem complacente,
sou humano,
humano e fera
(preciso lembrar-me de tal destemor).

Rirei de escárnio ao ver destruído o sonho,
e a esperança sangrando
e a deleitar-me com o rancor
de não ter-me dado a provar
o que procurei na flor encontrar
na bela manhã de sol
com a qual eu sonhei.

Riam de mim agora
o dia e a noite,
o torto e o certo,
o ontem e o hoje,
amanhã será tarde,
será o dia da gênese e do apocalipse
unidos num mesmo apetite,
voraz, pulsante e inerte do meu ser.

Se isto é um despertar, muito lamento...

Não, não foi assim que eu quis
(bem sei eu o que eu queria),
mas assim me foi dado a viver,
comendo espinhos, mas não cuspindo rosas,
guardando cores que num prisma, não se desfazem em arco-íris.
pastor de sentimentos,
de um rebanho ingrato, rebelde e insaciável.

Jogarei do alto do penhasco
meu corpo e minha mente,
e não estarei sozinho, e nem acompanhado,
e serei liberto do mundo
sem dar satisfações à alegria,
rirei de mim na perdição,
achar-me-ei hipócrita dentro de mim,
e serei normal assim,
e assim serei feliz.