FADO NÓNÓ
Neste bairro de Lisboa
De ruelas apertadas
Há comes e bebes à toa
Há fados e guitarradas
E num amistoso cantinho
Há uma casa sem igual
Onde se canta o fadinho
Num ambiente especial
A bela Bela serve a bebida
Com aquele sorriso traquina
Vem a Ana mui decidida
Num gesto fechar a cortina
Com as luzes já apagadas
Está criado o ambiente
Estão guitarras afinadas
Está a fadistada presente
Com o xaile preto traçado
Visivelmente comovida
A Odete cantando o fado
Aquele da “Chave da Vida”
Segue o “Fado da Mouraria”
Cantado de fio a pavio
Depois p’ra dar alegria
Vem a “Marcha do Navio”
A seguir vem o João
Cantando alto e entoado
“Maria da Conceição”
E depois o “Emboçado”
Bebendo um gole da taça
Que não deixa em mão alheia
E canta com toda a raça
“Montemor em Casa Cheia”
E entra depois a Tereza
Canta o fado com galhardia
E diz com toda clareza
Que “Seu coração Já Batia”
De porte altivo continua
Cantando de forma afoite
Primeiro o “Nome de Rua”
E “Procura-me Esta Noite”
É no “Silêncio” sentido
De lindas notas choradas
Ouve-se o fado sofrido
Na voz do Jorge Barradas
E nas mãos do guitarrista
Trina a guitarra a chorar
O fado é bem mais fadista
Com o Zé Maria a tocar
O Bairro Alto é assim
Desde o tempo de minha avó
Mas eu tenho cá p’ra mim
Que p’ra ouvir fado assim
Só na casa do Nónó
1990
Publico aqui no RL este fado que eu fiz em 1990, com a intenção de brindar uma casa de fados em Lisboa que eu freqüentava na época e que se chamava “Casa do Nono”.
Esta publicação é também para que a nossa ilustre Recantista ANA LUSA (Ana Flor do Lácio), possa matar saudades.