O BÊBADO E UM CARRO VELHOI

"O poeta é um fingidor, finge tão completamente que chega a fingir que é dor. A dor que deveras sente" FERNANDO PESSOA

POEMA:

No banco traseiro e sujo de um carro velho e fedorento,

certa vez, bêbado, um amigo me perguntou:

"Kekel, você é poeta mesmo, cara?"

"Sim, sou." Respondi

"Sério?!" Perguntou espantado o meu amigo

"Sim." mais uma vez respondi

Daí que ele não se contenta e faz mais uma pergunta

A qual não deveria ter feito:

"Puxa, cara, quer dizer que você é mesmo poeta, assim, profissional?"

Olhei pra ele, bem triste, e disse:

"Amigo, ser poeta não é profissão, sacerdócio ou ofício.

Ser poeta é uma penitência que o poeta tem eternamente com a vida"

Ele serve para retratar o que os seus olhos não enxergam

É ele um fotógrafo dos sentimentos inexistentes

Surge o poeta com a necessidade de dizer que sente aquilo que não sente...

Pra você ver, amigo,

Esse papo com o meu amigo nunca existiu.