jardineiro desatento

Já faz algum tempo, contudo, tenho a sensação que foi ontem mesmo, que em meu caminho, ganhou vida um imenso, perfumado, e colorido jardim, mais bonito que o céu, mais misterioso que o mar, mais grandioso que o mundo, mais arrebatador que tudo, muito mais que tudo. Trazendo para a minha vida morna, flores tão majestosas que passaram a ser parte enorme de mim. Entre elas se destacavam duas pequeninas flores de uma beleza indescritível, e cada uma com a sua particularidade, esbanjavam alegria e admiração a todos que delas se proximavam. Tessalia e Mirina, diamantes de luz que reluziam tanto ou mais que a lua.

Mirina, beleza natural de espécie cujo período floral se dá no outono e inverno, quando caprichosa, suas pétalas de forma exuberante encantam e aquecem os corações que necessitam de calor para amenizar o frio, uma das minhas preferidas e com certeza a mais linda flor dessa estação. Flor menina, flor de sinceridade pura, de extrema doçura, que quando alegre, contagia todas as letras do universo.

Tessalia, flor de encantos que aconchega flor de versos e rimas, flor que quando tempestade arrasa. Flor teimosa, lunar... Flor de fases, filha do vento. Flor pintada em tela, com espinhos, porém bela. Flor difícil de descrever, que não se coleciona, nem se põe em vaso, suas raízes são aéreas e ganham o mundo.

Eu, jardineiro desatento, admirava, mas não aguava, não adubava, não cuidava só me gabava de viver nesse jardim tão florido, que pouco a pouco perdia o brilho, o vigor, a alegria, o perfume. Hoje, sem identidade, meio que perdido, jardineiro esquecido que cultiva apenas a saudade, a esperança e a fé em dias melhores. Eu, jardineiro esquecido, com a sina de carregar no próprio peito a dor desse grande amor, até que não nasça mais o sol.