Mereço-me

Minha idiotia celera-me,

Toda a minha falsidade revela-me.

Aqueles meus poemas roubados,

Os meus grilhões de merda,

Minhas perdições pudicas,

Minhas vergonhas plenas.

Tudo que tenho é estorvo,

Tudo o que sou é inócuo,

Completo o nada com pouco e sobro-me.

Um desejo é um medo,

Elaboro-me, intenciono-me,

Cortejo-me, teleguio-me,

Não questiono, pondero-me.

A minha dor constrói-me,

Laboro o fermento doutro.

De amar sou broxa.

Toda beleza aborrece-me,

Minto-me, cancelo minhas verdades preferidas,

Masturbo-me. A minha paz ofende-me,

Meus partidos tomados,

Meus lados, oposições,

Tudo desvario à sorte,

Emburreço-me bruto,

Feliz e morno.

Antonio Antunes
Enviado por Antonio Antunes em 06/11/2006
Código do texto: T283822