Mereço-me
Minha idiotia celera-me,
Toda a minha falsidade revela-me.
Aqueles meus poemas roubados,
Os meus grilhões de merda,
Minhas perdições pudicas,
Minhas vergonhas plenas.
Tudo que tenho é estorvo,
Tudo o que sou é inócuo,
Completo o nada com pouco e sobro-me.
Um desejo é um medo,
Elaboro-me, intenciono-me,
Cortejo-me, teleguio-me,
Não questiono, pondero-me.
A minha dor constrói-me,
Laboro o fermento doutro.
De amar sou broxa.
Toda beleza aborrece-me,
Minto-me, cancelo minhas verdades preferidas,
Masturbo-me. A minha paz ofende-me,
Meus partidos tomados,
Meus lados, oposições,
Tudo desvario à sorte,
Emburreço-me bruto,
Feliz e morno.