O Fingidor
É impossível falar do que não se sente
Fingir é tão verdadeiro quanto, é quente
Quem finge ter dor, sabe onde dói
E sente tanto que lhe corrói
Ultraje ou um traje barato?
O que lhe cabe é mentir as verdades
Na contramão sacana da realidade
Obedecendo a ordem dos fatos.
Eis então a chave das verdades?
Que se resvala pelas folhas soltas
E no mais, no tédio, mostram calamidade?
Eis a sanha do fingidor literário:
Sabe onde pisa, mas pisa descalço
Finge saber o que de fato sabe
E no fim, morre misérrimo aos trinta
E só no inferno curte a glória do passado.