AULA DE ANATOMIA

Estendo o poema sobre a mesa como um homem.

O coração palpita em minhas mãos.

Os olhos estão abertos, alerta.

A pele é o mapa do universo.

Estendo o poema como um corpo feminino,

a vulva pulsa, peixes e pássaros se agitam nos pulmões,

os pés têm as marcas dos caminhos

e as mãos acariciam e abençoam.

O poema vigia como um cão

ou dorme à espera das crianças,

dos amantes desiludidos, dos desenganados da vida,

dos que não sabem ler, dos que nunca o lerão.

O poema jamais irá morrer,

mas agoniza sobre a mesa.

Às vezes uma estrela brilha em suas juntas,

às vezes refulge um tição sob suas cinzas.