Idioma

A João Cabral de Melo Neto

A língua que habito

traça caracóis de sonho

que se perdem no infinito

e, igualmente, desenha

com pena invisível,

o risco profundo

dos sentimentos ocultos,

torna o mundo possível.

A língua que habito,

presente em versos de amor

e cantigas de amigo,

é parte do chão verde-amarelo

que, vagando, carrego comigo;

é faca cortante que dilacera

em fatias sempre iguais

os eus que habitam em mim

sem separá-los jamais.

A língua que habito

encontra em vocábulos suspensos

o universo do não-dito

e transforma em signos permanentes

as chamas sempre presentes

de meus pensamentos fugidios;

é clareza, dúvida e engodo;

é voz, silêncio e grito.

Shirley Carreira
Enviado por Shirley Carreira em 13/11/2006
Código do texto: T290139
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