Maturidade
Tu lembras como foram bons aqueles dias
Quando podias andar descalço
Quando sorrias sem forçar a face
E tua alegria era ingênua e autêntica?
Tu lembras do quanto eras forte
Tua alma tão bela e corajosa
Teus passos tão firmes e elegantes
Tua vida um desafio divertido?
Tu lembras como eram grandes os teus sonhos
Tua chegada uma presença tão marcante
Nos teus olhos um brilho tão bonito
Teus amigos verdadeiros camaradas?
Não tens saudades daqueles tempos de outrora
Quando não te preocupavas com as horas
Na verdade os relógios não existiam
E a morte nunca te rondava?
O que fazes hoje de tua vida
Preocupado com a cotação do dólar
Querendo mais poder e mais prestígio
Iludindo-te com tuas vestes tão fantásticas?
Onde está aquele que um dia foi menino
Que corria pelos campos de pelada
Que amou a primeira namorada
E chorou quando pôde enfim beijá-la?
Cadê o ousado e rebelde
Que não tolerava tanta fome e injustiça
De tantas revoluções tramadas
Tão belo em seus delírios juvenis?
Hoje não sobrou quase nada
Tu cresceste e como mudaste
Estás mais velho e a morte ti é próxima
Tua luta foi tão grande quanto inócua
Construíste fabulosos impérios
Ergueste grandiosos castelos
Mas como é breve e frangível tua existência
Tens razão em temer tanto a morte
E se agora te resta dignidade
Se tu lembras que um dia foste um homem
Deixa as lágrima rolarem por teu rosto enrugado
Sente a dor por um vida desperdiçada.