Soluçar e Morrer

Foi numa manhã de outono,

Um céu limpo na cor anil,

Deixei na cama o meu sono,

Resolvi atravessar o rio,

E da gabine do carro,

Quando passava naquela ponte,

Avistei montanhas de barro,

Ao invés de água, só montes,

Pus-me a imaginar com tristeza,

Desse crime ambiental,

Quando era um postal de belezas,

Hoje vive na semifinal,

Que pena meu Rio Vermelho,

Onde já navegou altas chalanas,

E para o crime não há conselho,

Corrente suja e profana,

Já não vejo nenhuma sereia,

Banhando na correnteza,

Apenas camas de areia,

Entupindo o rio e as veias,

Esse rio que ainda respira,

Tentando escapar da morte,

Corpo ferido vestes em tiras,

Inconsciente e sem sorte,

Cadê teus peixes gigantes?

As ondas formadas no leito,

Aquele vermelho brilhante,

Do teu semblante e do peito?

Eu sei que chora baixinho,

Pela agressão a sua vida,

Vai desaguando aos pouquinhos

Teu sangue pela ferida,

Mas não param de assorear,

Até que alguém reage e grite,

E onde eu poderia nadar,

Tem altas dunas, acredite,

Será que ainda há salvação?

De salvar seus afluentes,

Ter novamente a vazão,

De quando era antigamente?

Não sei mais o que pensar,

Nem a quem recorrer,

Vou sentar aqui e sonhar,

Vendo meu Rio soluçar e morrer,

Eu já perdi a esperança,

Minha força foi dominada,

A gente insiste até que cansa,

Ninguém assume esta parada,

Ver esse Rio cheio de novo,

Seria mito ou milagre?

Mas tudo é possível meu povo,

Fisgar umas piranhas e bagres,

Depois da natureza refeita,

Eu poderia sim entender,

Que o planeta não é uma seita,

De sacrifícios sem crer.

Francisco de Assis Silva é Bombeiro Militar em Rondonópolis.

Email: assislike@hotmail.com

maninhu
Enviado por maninhu em 27/05/2011
Código do texto: T2996805
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