Interior
O Poeta
Que morre em mim,
Traz a marca do silêncio
Que encontro em ti.
Ele caminha, disfarçadamente,
Entre os sentidos
Absurdos
Do seu coração.
Mas na luta diária de meu lado
Esquerdo,
Amigo, ele se perde
Entre seu olhar no meu olhar.
Olhar-te, porém, do alto de meu
Disfarce,
Me constrange e me abala
Ou me perfura a carne,
Meu sangue
Banhando
De morte
As calçadas
Alheias;
Os olhares alheios;
Os homens alheios;
As mulheres alheias;
As moças alheias...
O Poeta que mora em mim
Também se ofende e se agrada.
É ser, como as aves entre os seres.
E eu, que me mapeio
O coração,
Ando perdido,
Canto a canto,
Em teus lençóis;
Em teus espantos!
Esse meu “Eu Poeta”
Que sangra, distante,
Outros meus amigos;
Esse meu “Eu Poeta”
Feito de dor e carne e vestígios;
Esse meu “Eu Poeta”
Que vê além
De meus ouvires,
Me cobre de desafios e
Pensares...
O pensar ser além
Do homem-Carne;
O pensar ser além
Do homem-Método;
O pensar ser além
Do homem-Máquina,
Me funde em pensamentos;
Me algema em faces
Estranhas
E vivas,
Feito água
No céu
De minha boca.
Mas as palavras
Me atiram fora
O corpo nu;
O corpo do Homem-Natural
Que me obriga,
Do desperdício
Que me custou
Rasgar esse meu tédio
Sobre a cidade,
À implosão de outros
Versos;
De outros estranhos versos
Escritos na sombra daquela
Imagem.
(Poema do livro A Noite de Luvas Brancas, de Mário Gerson)