Podia no silêncio profundo destas linhas

Podia no silêncio profundo destas linhas

Dizer-te muitas coisas

Talvez coisas a mais e que, mesmo algumas banais,

As pudesses ouvir com gosto

Podia enlear-me em teorias sobre as metáforas do teu rosto

Praias desertas de sentido onde morre um sol já posto

E podia falar-te das estrelas e do mar

Contar-te historias e mentir-te só pelo prazer de inventar

Podia cercar de palavras os teus lábios

E no cristal de uma manhã quebrar os silêncios entre os passos

Podia segredar-te qualquer coisa

Palavras ternas ou esperanças

E queria acima de tudo dizer-te verdades

Daquelas só minhas e que tenho por estimação

E que verdade só em mim o são

Queria descrever-te viagens que não fiz

Os países que não conheço e ensinar-te só a ti

Todas a línguas que não sei

Contar-te ao ouvido historias de reis errantes

E todas as historias de todos os amantes

Que em noites, como esta, como nós se perderam

E podia fazer navegar versos nas ondas do teu cabelo

E mostrar-te as planícies da tua pele

E poderia talvez mais…

Mas o fundo dos teus olhos

(Onde ainda és a criança que inocente sorri

Por entre a seda das manhãs)

É mais profundo que tudo isto

É mais profundo do que tudo o que posso dizer

Talvez seja isso que me mantêm suspenso no teu rosto

Enquanto lá no fundo dos teus olhos

Por entre as manhãs mortas que carregam

Existe uma menina olhando-me espantada

E esperando, sempre, a próxima palavra que não digo

Tiago Marcos

chomanno
Enviado por chomanno em 26/11/2006
Reeditado em 27/11/2006
Código do texto: T301564