PÊNDULO

O pêndulo é de movimento cruel...

cada batida, a ressonância

no dentro de um vazio absoluto.

É tão cruel seu movimento,

letal seu compasso,

gesto frio, oco

como a surda pancada

de punhos na madeira.

O pêndulo corrompe a matéria

num ritmo que se desdobra

em atos sagrados

que a tudo devora.

O pêndulo enterra a quimera

com beijos sa(n)grados

no romper d’aurora.

Oh!, cheiro puído de madeira largada ao acaso.

Oh! gritos de galos esmagando um tempo

– um tempo que morre – em razão de outro.

Se ainda metaforizam a vida os giros lentos,

todo castelo não é mais que paiol de ventos,

porque o tempo desfolha a matéria,

c a r b o n o

p o r

c a r b o n o

numa fusão orgânica de corpos que medram

e na conformidade de fogos que apagam.

A vida é habituar-se ao nada.

Gedeon Campos
Enviado por Gedeon Campos em 12/06/2011
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