PÊNDULO
O pêndulo é de movimento cruel...
cada batida, a ressonância
no dentro de um vazio absoluto.
É tão cruel seu movimento,
letal seu compasso,
gesto frio, oco
como a surda pancada
de punhos na madeira.
O pêndulo corrompe a matéria
num ritmo que se desdobra
em atos sagrados
que a tudo devora.
O pêndulo enterra a quimera
com beijos sa(n)grados
no romper d’aurora.
Oh!, cheiro puído de madeira largada ao acaso.
Oh! gritos de galos esmagando um tempo
– um tempo que morre – em razão de outro.
Se ainda metaforizam a vida os giros lentos,
todo castelo não é mais que paiol de ventos,
porque o tempo desfolha a matéria,
c a r b o n o
p o r
c a r b o n o
numa fusão orgânica de corpos que medram
e na conformidade de fogos que apagam.
A vida é habituar-se ao nada.