ENCONTRO CASUAL

ENCONTRO CASUAL

Francisco Miguel de Moura*

Era um lugar bem à porta

Do chegar e do sorrir,

Ela não estava morta,

Nem eu estava a ruir

O nome? Menos importa.

Era o olhar consumir

A cova do seio à porta

Palavras não pude ouvir.

Mas, ciciante... “O que cala”?

De rogado não me fiz

Porque quando alguém nos fala

Está querendo ser feliz.

Mas só ouvi – juro em cruz! -

“Estou falando com Deus.

Vendo os seus olhos azuis,

Quase que me elevo aos céus”.

Olhei seu colo tão bem,

Com um emplasto no meio,

Ningém sabe donde vem...

“É moça de bem... - me veio.

Espantou-me a solidão

Com seu sorriso faceiro,

Abri o meu coração,

Mas ela falou primeiro.

Depois nos emudecemos

Com vergonha... Mas, de quê?

Talvez de nós. Padecemos

Da síndrome “alguém nos vê!”

Vê e ouve, é desconforto...

Saímos de porta-a-fora,

Eu, como estivesse morto..

E ela voou, foi embora.

Anjo que me visitou

Na tarde que já fugia,

A classe não me importou,

Envolto em louca magia.

Ah, solidão! Não me trague!

Ela subiu, eu nem via.

Mas, como creio em milagre,

Segui minha própria via.

A noite desceu... Que importa,

Se a manhã amanheceu?

Fiquei imóvel na porta,

Feito estátua!- Assim se deu.

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*Francisco Miguel de Moura é poeta, mora em Teresina, PI,

Brasil. Mas também é prosador, autor vários romances já

publicados e um inédito, com o título de “O Crime Perfeito”