MATEUS
MATEUS
Os livros óbvios me vêm à cabeça!
A massa do meu cérebro convulsa
é caos iminente na mente.
E contemplo memoráveis geografias dos meus enigmas esmagadoramente indecifráveis.
É noite, mas não há noite,
nem tarde,
nem auroras!
Oras, ora!
Acima, meu templo;
e os meus olhos manipulam as frases sagradas do Livro.
Em busca de salmos, provérbios, Amós...
Oras, ora, não há nada que eu possa restaurar
em meio às trágicas páginas;
acima, meu altar:
'_ Amai-vos uns aos outros...'
Oras, ora, não há nada que eu possa alterar.
Minha vasta biblioteca e eu laudo Deum, Laudetur!
No jardim dionisíaco das flores do mal,
Joyce disse: _ ‘Haja Ulisses’ e houve ‘finnegans wake’,
a ‘alma boa’ de Lautréamont, ...
canto, cantos, o canto de Pound!
Saúdo o verbo e o recomeço!
Louvo o verbo e o começo!
O profano em meio ao sagrado.
É o mal misturado ao bem,
'Kiplot' e 'Tikun' em eterna descomunhão.
Deus, o quanto já pusemos a perder a nossa ração, a nossa comunhão!
E as mãos, o coração, a visão de Mateus tecem nas escrituras a trama
da paixão do Pai pelo Filho;
do Filho, Jesus, pelo Pai, Deus;
do Criador pelas criaturas.
SÍLVIO MEDEIROS
Campinas, é inverno de 2011.