O MORCEGO
                                                   Augusto dos Anjos
 
Meia-noite. Ao meu quarto me recolho.
Meu Deus! E este morcego! agora, vede:
Na bruta ardência orgânica da sede,
Morde-me a goela ígneo e escaldante molho.
 
"Vou mandar levantar outra parede..."
- Digo. Ergo-me a tremer. Fecho o ferrolho
E olho o teto. E vejo-o ainda, igual a um olho,
Circularmente sobre a minha rede!
 
Pego de um pau. Esforços faço. Chego
A tocá-lo. Minh'alma se concentra.
Que ventre produziu tão feio parto?!
 
A Consciência Humana é este morcego!
Por mais que a gente faça, à noite, ele entra
Imperceptivelmente em nosso quarto!
                                        (ANJOS, op. cit., p. 70.)
 
 
BORBOLETA BRANCA
                               Lucarocas
 
É manhã e o sol vem me despertar
E uma borboleta vem fazer seu ninho
Como quem louva vem me acarinhar
E no meu quarto já não estou sozinho.
 
Ergo então uma flor para ela pousar
E em suas pétalas fazer o seu carinho
E olho em volta todo seu revoar
Beijando a flor sem tocar o espinho.
 
Estendo a mão para esse ser tão nobre
Para tocá-lo seja rico ou pobre
Basta na vida ser pessoa franca.
 
Trazer na alma luz de honestidade
Para ter na vida a felicidade
Da consciência borboleta branca.
        (Lucarocas – Poemas Diversos – 2002)
 

Lucarocas
Enviado por Lucarocas em 30/06/2011
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