Asas

ASAS

Todas as noites

me nascem asas

e eu fujo nelas

para lá do horizonte

onde as pedras flutuam

e as nuvens se abatem

e o sol

tece cores

de arco-íris e fadas

na poalha dos ventos

eu ouvi dizer

que o homem não paira

que o arrasta o peso

para baixo do chão

e então estas asas

da cor do poente

da cor da seara

tecidas em arte

de angústia e medo

cresceram em pranto

rumo ao infinito

e eis que desci

e poisei numa águia

que ousara dormir

no segredo da nuvem

largando o orgulho

na descida meiga

semelhando uma pomba

crendo ser luz

todas as noites

o vento é brisa

e a lua me guia

através do azul

marchetado de pontos

que se entranham em mim

e esculpem carícias

na pele dormente

e é então que durmo

no aconchego de um mito

e o sonho me leva

até mim

até mim

Regina Sardoeira
Enviado por Regina Sardoeira em 06/12/2006
Código do texto: T311482