Carta marinha
Carta marinha
Quero te dar a carta de marinha
O traço que nela se insinua
Um entre tantas correntes, tantos rumos.
Quero te dar as tábuas de marés
A leve emoção de cavalgar
Onda e onda após onda.
Quero te dar os índices das águas
Conforme as densidades,
E a branda flutuação do casco.
Quero te dar a rosa, o leme e o timão
E o desequilíbrio desconcertante
Ao balanço de bordo.
Quero te mostrar exemplos de ancoragens,
O galeio do barco seguro
Retesando as amarras.
Quero te mostrar o longe no binóculo
Acolá das lentes a paisagem
convidando à viagem.
Quero te mostrar o mar calmo
O rumor das franjas no espelhado
Junto à roda de proa.
Quero tirar de você o gorro de marinheiro
Sentir a pressão do linho nos cabelos
Enquanto sopra a brisa marinha.
Quero te proteger da direção da chuva
Sentir o gosto dos pingos salitrados
Escorrendo no seu rosto.
Quero que sintas posturas de sextante
O fulgor da estrela observada
Entre o horizonte e prisma.
Quero que dês nomes a alguns peixes
Espantada de vê-los acender
Fosforescentes rastros.
Quero te dar mais que frios conhecimentos
Quero te dar o que se acalenta no convívio
Amoroso do mar.