Dizem que o céu é azul

É de tanto tempo, o azul

que guardaste nos olhos,

julgando que eu acabaria

por acreditar no céu!

...

Lembro-me ainda

dos sorrisos raios de sol

com que me aqueceste as mãos,

dos tímidos voos de beijos

com que me desenhaste asas no peito,

dos doces timbres de voz

com que me ensinaste a música do vento...

E eu, sempre a lembrar-te a mentira das primaveras tardias,

sempre a recortar-te nuvens na intensidade dos dias,

sempre a fazer-me nortada a assustar incorpóreas maresias

(ou a atiçar fogos lavrados nos poemas que me escrevias...?),

sempre, sempre,

a tentar negar o céu

que guardaste nos olhos

para me envolver de azul.

Sempre, sempre,

a amarrar-me aos tons de terra

que me prendiam os pés

numa tentativa frutífera

de reconhecer que és...

a atmosfera que respiro.