Deserto-cão

DESERTO CÃO (Josette Lassance)

aqui é noite no deserto cão

o mundo faroeste, entre inimigos e inimigos

ele é um vale... um deserto onde os homens se perdem

daqui mesmo, onde o olhar se reparte, da miragem da estrada seca até a caveira do gado

os ranchos de madeira que a ferrovia entrecorta

vejo todas as coisas submersas em seu sentimento. Coisas que profanamos sempre, sem nenhuma ternura, burlando os eternos laços dos rituais sagrados

nessa hora perdida se fundem pedaços e o vazio preenche o horizonte

nada além do que uma mesquinha vida

de armadilhas armadas

aqui é noite no deserto cão

nem mesmo as sombras do jasmim caem sobre o chão neste verão seco, cheio de luas enormes

onde o vento traz desejos

mundo faroeste

mocinhos, bandidos e bandidos se compensam em iguais

daqui mesmo vemos todos nas tempestades de areia

aos rifles e ao estilhaço

das espingardas

aqui é noite no deserto cão

e o dia é de pó, sangue e suor dos homens

que se destinam

a uma terra

que jamais terá dono,

será como as noites

de veludo e carne

entre faunas de pedra

e luxúrias do céu negro

nada lhe dará vínculos

onde possa arder o mesmo rosto do sol no crepúsculo

e nada mais se poderá fazer

cansamos do ácido

das fantasias de robôs

cansamos do que não signifique

enlace

aqui é noite no deserto cão

hora perdida

hora de pedra

hora de uivar para as cinzas da lua.