De que lado vem o vento do mar?

Nesta espécie de hora nocturna

fragmento ténue

solidão condenada

à imaginação do esquecimento.

o silêncio esvaído

insiste em desenhar mares

arrulhar metáforas e aliterações.

Digo amor

invento um coração

estuário da memória húmida

memória perfumada de hipocrisia

Esbarrondando

neste tempo degradado

Dos homens abjectos.

Digo pátria

Sonho anterior a nós

Chama que a vida em nós criou.

Mensagem fecunda

Trazida

Em todas as auroras ansiosas.

Vou continuar aqui

com os olhos secos

Chorando memórias

Do tempo

Envelhecido no destino.

atirando palavras

ao crepuscular percurso diáfano

das gaivotas

no torpor do voo.

Ai Kalunga!. Kalunga aiué!

A perspicuidade vira opacidade estreita e nublosa.

De que lado vem o vento do mar?

Manuel C. Amor

Novembro 2006