UMA PAUSA NA PRAÇA

Velhas árvores lembram fotos antigas

Deixando nos olhos uma lágrima tímida

Pássaros de fogo gorjeiam sufocados

Pela fumaça de um churrasco fora de tempo

Um homem e uma mulher dormem na calçada

Enquanto duas almas gêmeas vendem feijoada

Debaixo das ruínas de um barraco clandestino

Onde está o menino?

Onde se escondeu o poeta?

Cadê os catadores de sonhos?

Chamem as carpideiras

O velho deus morreu

E ninguém está disposto a chorar.

Velhas árvores lembram fotos antigas

Desbotando nossas lembranças

Que são levadas pelo vento

As sombras refrescam a manhã de sol

A embriaguês da vida é melhor

Do que o sonho procurado

No meio da praça carcaça de homens

Jogam dominó e contam suas histórias.

São pequenas as veredas,

Tão longo é o pensamento

A cruzar os ares em busca de um corpo

Ou trazer o gosto do último copo de vinho.

Ouve-se a notícia triste de uma morte

Enquanto gladiadores disputam a glória

Debaixo de um sol escaldante

Alguém comemorou o nascimento

De mais um rebento

De repente acorda o homem que dormia

Debaixo de uma marquise amarela

Tragam as cordas, tragam as rosas,

Tragam a mesa com feijoada

Pois um homem despertou para a vida

Sem a necessidade de um milagre.

Velhos, árvores, bancos, pombos,

Lavados pelo vento de outubro

Reluzem na praça onde repousa o guerreiro

Armado de velhas fantasias

E disposto a guardar na carteira do tempo

As impressões de um passeio na praça.

henrique ponttopidan
Enviado por henrique ponttopidan em 02/10/2011
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