O corpo do vento

O corpo do vento

não está para a velhice.

E sua pele invisível,

por mais se que gaste

nas tormentas, falésias,

se renova, se basta.

Essa silhueta indizível

se constrói pelo que toca.

Brinca nos cabelos das árvores,

na sombra fria e dançante

das roupas do varal.

É possível ser intenso,

suspendendo os telhados,

descompondo as casas

que por azar não sabem voar.

É provável que derrube

os ninhos mal-acabados

de amores de asas curtas.

Para isso,

há de bem valer a reza.

Santa Bárbara abrandai!

Pela rogativa, serenou

e voltou a mover moinhos.

Pelo destempero, propôs-se

varrer o chão de folhas.

Iria a igreja confessar,

livrar-se do julgo imaturo,

mas no caminho, o desvio,

apanhou uma corrente de ar!

Foi ao sul das terras

onde guerras fervilham

e sentiu-se furar pelas balas.

Nos braços, poeira de estrondo

pairava alvacenta, temerosa.

Era preciso voltar.

Migrar com os dias e as aves.

É certo, todos os dias são

aves de migração

e o tempo, exímio caçador,

as alveja por prazer.

Uma ave solfeja dor, cai,

mais um dia vai no horizonte

e o corpo do vento fica!

Felix Ventura
Enviado por Felix Ventura em 23/12/2006
Código do texto: T325818
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