Lamúria I

Insurge feito espírito o artifício frio,

E eu, este ser horrendo de peito quente,

Atiro aos mares negros, a única semente,

Escopo aniquilado de meu próprio vazio.

Embargo meu canto em lagos impuros,

Desnudo meus ossos, a alma, o hemisfério.

A solidão é senhora, meu peito, o império,

Minhas orlas tristonhas, as sebes e muros.

Adeus ao meu verso, mui belo, inaudito,

Que arda um dia, n´alguma boca ferida,

Traceja-me, a morte, o calcar ao infinito!

Adeus, meus amigos, que estou de partida,

Guardem-me os olhos e o canto maldito,

Para que eu sinta na morte, um traço de vida.

Myrna RRP
Enviado por Myrna RRP em 25/12/2006
Código do texto: T327682