TIMIDO ( EU E O TRAVESSEIRO)

Fui cantor de chuveiro em minha infância

e me tornei musico na adolescencia

Perdi meu dom na juventude

hoje bato lata em semitons

e quando encontro neles algum som

esqueço-me imediatamente da receita

que fiz enquanto ela observava-me

embaixo da mangueira solitária

nos caminhos da fazenda de Vicente Coelho

Ela sorriu com tanta autoridade

e eu um rapaz vindo da cidade

fiquei vermelho e mudo em frente dela

A noite acordado eu pensava nela

falando ao travesseiro o que não pude

Ensaiei quase que toda a noite o meu poema

não sabia que não era a inspiração que me faltava

mas o ar, o folego, ousadia, me emudecia

e novamente esperava pela nova chance do outro dia.

Mas quando a vi chegando pela praça

Meu Deus, como ela é linda,uma graça

Criei coragem pra encontrar com ela

mas quanto mais chegava perto dela

mais ainda não sabia o que dizer

nem mesmo um cumprimento eu me lembrava

e nos teus olhos eu não mais olhava

sorri amarelo e passei por ela

como se estivesse indo adiante

Então eu percebi naquele instante

que ela já não ia me esperar

pois outro eu vi a ela achegar

e ousando em suas mãos tocar

e antes de retribuir qualquer olhar

eu vi ela esperançosa a olhar para mim

esperando ver em mim alguma reação

mas novamente abaixei os olhos

então ela sorriu para o insolente

e lhe retribuiu com um sorriso

olhou mais uma vez pra mim e foi-se

Enquanto eu me lembrava das palavras

que ao travesseiro eu disse na outra noite.

Alexandre Fernandes
Enviado por Alexandre Fernandes em 27/12/2006
Código do texto: T329119