Da terrível dúvida das aparências,
da incerteza afinal de que possamos estar iludidos,
de que talvez a confiança e a esperança
não sejam afinal senão especulações,
de que talvez a identidade para além do túmulo
seja apenas uma linda fábula,
de que talvez as coisas que observo,
os animais, plantas, homens, colinas,
águas brilhantes a fluir,

o céu do dia e da noite, cores, densidades, formas,
talvez tudo seja (como sem dúvida é)

apenas aparições, e a coisa real
ainda esteja
por conhecer
(quão frequentemente se desligam de si mesmas
como se para me confundir e zombar de mim!

 
 
Quão frequentemente penso que não sei nem homem nenhum sabe nada a respeito delas),
talvez me parecendo aquilo que são
(como sem dúvida parecem) no meu presente ponto
de vista e podendo revelar-se depois (como naturalmente poderiam)
como não sendo nada daquilo que parecem,
ou nada enfim, a partir de pontos de vista
totalmente diferentes;

para mim essas e outras questões semelhantes
são de algum modo respondidas pelos meus amantes,
meus queridos amigos,

quando aquele que eu amo viaja comigo ou se senta segurando longamente minha mão,
quando o ar sutil, o impalpável, o sentido
que as palavras e a razão não detêm,
nos cercam e nos perpassam,

então me sinto invadir por uma sabedoria indizível, inaudita, e fico em silêncio, e não me falta mais nada,
não posso resolver a questão das aparências
ou a da identidade para além do túmulo,

mas caminho ou me sento, indiferente,
e estou satisfeito;

ele, a segurar minha mão, me satisfez completamente.
  

                                                      (Tradução de Renato Suttana)

          Fonte:   http://www.arquivors.com/



Walt Whitman (EUA)
Enviado por Helena Carolina de Souza em 29/10/2011
Reeditado em 30/10/2011
Código do texto: T3305740