Uma hora para a loucura e a alegria!
Ó furiosos!  Oh, não me confinem!
(O que é isto que me liberta assim nas tempestades?
Que significam meus gritos em meio aos relâmpagos
e aos ventos rugidores?)

 
Oh, beber os delírios místicos mais fundamente
que qualquer outro homem!
Ó dolências selvagens e ternas! (Recomendo-as
a vocês, minhas crianças,
Dou-as a vocês, como razões, ó noivo e noiva!)

 
Oh, me entregar a vocês, quem quer que sejam vocês,
e vocês se entregarem a mim, num desafio ao mundo!
Oh, retornar ao Paraíso!  Ó acanhados e femininos!
Oh, puxar vocês para mim, e plantar em vocês
pela primeira vez os lábios de um homem decidido.

 
Oh, o quebra-cabeça, o nó de três voltas, o poço fundo
e escuro – tudo isso a se desatar e a se iluminar!
Oh, precipitar-me onde finalmente haverá espaço
e ar o bastante!
Ser absolvido de laços e convenções prévias,
eu dos meus e vocês dos seus!
Encontrar uma nova relação – desinteressada – com
o que há de melhor na Natureza!
Tirar da boca a mordaça!
Ter hoje ou todos os dias o sentimento
de que sou suficiente como sou!

 
Oh, qualquer coisa ainda não experimentada!
Qualquer coisa em transe!
Escapar totalmente aos grilhões e âncoras dos outros!
Libertar-me!  Amar livremente!  Arremeter perigosa
e imprudentemente!
Cortejar a destruição com zombarias e convites!
Ascender, galgar os céus do amor
que foi indicado para mim!
Subir até lá com minha alma inebriada!
Perder-me, se preciso for!
Alimentar o resto da vida com uma hora
de completude e liberdade!
Com uma hora breve de loucura e alegria.
 
                                                 
(Tradução de Renato Suttana)

          Fonte:   http://www.arquivors.com/



Walt Whitman (EUA)
Enviado por Helena Carolina de Souza em 29/10/2011
Reeditado em 30/10/2011
Código do texto: T3305767