QUANDO

Quando nenhuma idéia surgir

Quando a palavra se esconder

É hora de deixar a alma navegar

Sobre as ondas brancas

E escutar o silêncio das horas,

Pois nem sempre as pedras

Estão no mesmo lugar.

Quando nenhuma voz se ouvir

E todas as flores adormecerem

É hora de recolher o tempo

E aprisioná-lo em uma ampulheta

Para que as lembranças

Não despertem velhos desejos

Nem os sonhos fiquem despidos.

Quando nenhum homem agir

Na esperança do agir de deus

É hora de buscar a loucura

E queimar a cruz em holocausto

Espalhando as cinzas sobre as asas

De um pássaro que as levará

Ao encontro de um novo amanhecer.

Quando uma estrela sumir

No buraco negro da noite

E a mulher se vestir

Com o manto vermelho da paixão

Que o homem esteja a posto

Com a sua espada na mão

E nos pés as botas de Hermes

Quando a última dama partir

Deixando o aroma de suas vestes

E uma canção perdida no ar

Que se façam oblações

À lembrança do seu corpo

E os poetas escrevam poemas

Exaltando o amor.

Quando o castelo ruir

E o vento levar a sombra

Do que já não era,

Que se dêem as mãos os Quixotes

E reescrevam a história dos povos

Extinguindo de uma vez os moinhos

Cujas pás teimam em girar

Sempre na mesma direção.

Quando o amor não mais existir

E a solidão se jogar de um edifício

Que os homens se envolvam nas redes

Tecidas pelas mãos do passado

E voltem ao jardim da infância

Para resgatar velhas canções de ninar,

E aprender que apenas o tempo é eterno.

Quando a última máscara cair

E a humanidade perceber-se traída

A liberdade finalmente sairá das masmorras

E todos os homens se amarão dignamente

Pois saberão que a vida não tem sentido

Desde que dêem sentido à vida.

Valdeci Ferraz, em 01/11/11

henrique ponttopidan
Enviado por henrique ponttopidan em 01/11/2011
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