ANTES DE TUDO

Antes de tudo um nada pleno

através do qual vagaremos

nos buscando, nos perdendo,

tecendo os nossos destinos,

fazendo as nossas horas

e nossa vivência quando possível.

E é nesse nada denso que faremos tudo,

tudo o que for possível,

para que nada escape sem que saibamos,

sem que vejamos,

sem que queiramos

sem que aquiesçamos

ou sintamos...

Assim, esse nada absoluto

há de ser o nosso tudo

de onde tiraremos, como mágicos,

os nossos amigos,

os nossos planos,

os nossos caminhos,

os nossos destinos,

os nossos pecados,

os nossos filhos,

- naturais ou adotados –

e as nossas alegrias e dores quotidianas,

ou nos perderemos irremediavelmente

como o “click de um flash one-way”

de uma câmera quebrada.

É desse nada pleno,

como deuses,

que faremos o nosso tudo,

inclusive as profundas marcas em nossas almas

pelo nada conseguir

que o sapiente tempo

há de transformar em lembranças ocasionais...