UM JUNTADOR DE PALAVRAS

UM JUNTADOR DE PALAVRAS

Os loucos vão pela rua

Procurando uma razão;

Os músicos ferem as cordas

Procurando uma canção.

Os rios procuram o mar,

As abelhas procuram as flores;

Os dias procuram as noites;

Nas noites, procuram-se amores!...

E eu procuro no tempo

Algumas belas palavras;

Pérolas vagando ao vento,

De ouro -partículas, lavras.

Sou um caçador de emoções,

Sou um juntador de palavras;

Componho poemas, canções,

E dos pássaros -as suas asas!...

Sou menino e sou adulto,

Sou sério e sou brincalhão;

Canto com um olhar astuto

O que manda meu coração!

Se sofro... de quem é a dor?

Quem melhor pode senti-la?

A dor é minha -e meu é o amor-

E pouquíssimos querem ouvi-la.

Por isso contenho-me apenas

Em juntar algumas palavras;

Que formarão simples poemas,

E retornarão ao vento, às vagas!...

Tornei-me um caçador de penas

Ou de belíssimas aves raras?

Não importa, tornei-me apenas

Um juntador de palavras!

INVASÃO DA SAUDADE

De repente uma sensação estranha

Como se alguém tivesse me invadido!

Trazendo à tona aquelas teias de aranha

De meu passado remoto, esquecido...

Foi assim que essa estranha visitante

Fez arder em minhas veias compulsais:

Saudades de meu avô nesse instante;

-da minha infância que não volta mais...

Por que? Por que só agora essa lembrança?

-As cenas do meu tempo de criança

Retiradas do baú da memória?...

Por que senti saudade, saudade tanta,

De uma cantiga que não mais se canta!

Deste passado que virou história?...

A AVE E O PINTOR

Pudera pintar uma bela ave.

Pintá-la, apenas, e não fazê-la;

Que tivesse um canto suave e grave,

E nas penas o brilho de uma estrela...

Que fosse feia e que fosse bela

Como as aves que vejo no meu sertão;

Que soubesse voar como uma gazela

E tivesse as penas de um pavão!

Mas que ave é essa, que ave é essa!

Que não existe no meu sertão?

Pintá-la apenas é o que me resta

Com as tintas da minha imaginação!

Seria uma fênix? Um gavião?

Ou seria apenas uma patativa?

Essa ave é o meu coração...

Pedaço de sonho e de matéria viva!

CANÇÃO AMIGA

Eu quero ouvir uma canção amiga

Do próprio zunir de um inseto!

Que embora distante a melodia

Seu encanto faça-lhe tão perto...

Eu quero ouvir uma canção amena

Dessas que falam de amor, alerto;

E quero sentir sua forma serena

Na multidão, embora eu deserto!...

Eu quero ouvir uma canção eterna

Que sim, só fale de amor, repito;

Onde o homem esqueça a guerra

E onde a guerra esqueça o grito!...

Eu quero ouvir uma canção amiga

Dessas que o mundo jamais esqueceu;

Que fale de tudo, das coisas da vida!

Da vida da vida de quem a viveu...

(Abril de 1989)

AMAR

(CONTA DE MATEMÁTICA)

Possibilidade de ser

Dois pássaros voando;

Possibilidade de ser

Quatro olhos se olhando;

Quatro mãos se tocando,

Quatro braços se abraçando

E dois seres se amando!...

Possibilidade de ser

Um namoro começando;

Dois seres se aliando,

Duas mãos se prendendo,

Dois seres se casando,

Dois seres convivendo.

Possibilidade de ser

Nova vida se formando,

Novo ser aparecendo;

Do ventre concebendo!...

E se multiplicando.

Possibilidade de viver

Amando e se amando;

Amando e o tempo passando;

Amando e envelhecendo;

Mas nunca se esquecendo,

Mas nunca se separando!

Meu Deus, o amor patente!

No coração da gente.

Amar pra sempre amar...

Mas que triste ver o casal

Querer se separar

Porque esqueceu a conta,

Porque esqueceu o amor,

A conta de multiplicar!...

E em vez de multiplicar

Resolveu subtrair;

E em vez de adicionar,

Quis mesmo foi dividir

E o amor que era tão belo!

Deixou de existir...

AURORA

A Neide, minha querida esposa.

O encanto que me encanta

Quando a manhã se levanta

É ver um segredo exposto

Na alegria do teu rosto!

É ver acesa essa chama

Que em meu ser flameja;

É sentir que você me ama

Quando a sua boca me beija.

É sentir quando anoitece,

Que uma luz em mim aparece

E outra luz de ti emana...

É sentir por toda hora

Que a vida é uma aurora

Quando a gente se AMA!...

O AMOR QUE SINTO

O amor que sinto por você meu bem

É algo que me faz suspirar sozinho

É flor perfumada sem ter espinho,

Dádiva dos Céus que igual não tem!

É certo que maior amor não há

Nem mais sincero, nem mais radiante,

Quando estou perto não fico distante;

Quando distante -quero te encontrar!

O amor que sinto por você meu bem

Somente os contos de fada é que tem

Um final feliz para assemelhar.

Essa minha alegria só não resiste

Quando não estás comigo (eu fico triste)!

Pois juntinho a ti quero sempre estar!

NÃO ENTENDO

Não entendo como alguém no mundo

Pode viver sem se apaixonar;

Sem conhecer esse amor profundo...

Pois como é bom a gente se amar!

Não entendo como alguém no mundo

Pode viver só pensando em guerra!

Pra que um povo fique moribundo...

Desolado nesta linda terra!

Fico pasmo, sem compreender

Como Sadam, Hitler e Pinochet

Inda inspiram os seus seguidores...

Precisamos de mudança agora!

Despertar o alvorecer da aurora...

Na nossa vida -semear amores...

O QUE IMPORTA?

O olhar que pega,

A mão que vê;

Os lábios que sonham

Só com você!...

Num dia noturno,

Numa noite solar;

Quero estar estando,

Quero te amar!...

Quero ser teu

E não tê-la pra mim?

Quero ser, sem ser?

E ser sempre assim?...

Mas o que importa?

-Se te amo com o corpo

E com a alma exposta!

AMOR

Amor é um tesouro

Que em nós guardamos;

Mas que só tem valor

Quando compartilhamos!...

A LÁGRIMA

A lágrima que tem

Cloreto de sódio;

Às vezes tem amor,

Não é lágrima de ódio!

PARALÍTICOS

Paralíticos são os que não amam,

Os que não perdoam...

Vivem atrofiados

E não podem caminhar para o Céu!...

O AMOR É MAIS...

O amor é mais do que real...

O amor é quase um sonho!

ATENÇÃO

Atenção senhores poetas!

A poesia não é de ninguém;

Não se apaixonem por ela...

Que ela é minha também!

ENDEREÇO

Aonde que moras, poeta?

-moro na Rua do Amor;

E na minha casa tem uma placa:

Aqui mora um sonhador!

QUEM NÃO AMA

Quem não ama a poesia,

Essa musa tão concreta;

Não sabe da alegria

Que sente todo poeta!

DEZ POETAS E

UM PASSARINHO

1- DRUMMOND

Falo do jeito mais verdadeiro,

Falo sem nenhuma maldade:

O maior poeta brasileiro

É Carlos Drummond de Andrade!

2- MANUEL BANDEIRA

“Vou-me embora pra pasargada”?

-Por isso Manuel sumiu?

“Em Pasargada tem tudo?...”

Mas pra tosse, terá Bromil?

3- JOÃO CABRAL

Eis o poeta da razão!

-Arquiteto predileto;

Com o poema em construção...

-João Cabral de Melo Neto!

4- MÁRIO QUINTANA

Pela Rua dos Cata-ventos

Eu passei esta semana

E lá encontrei um poeta

Chamado Mário Quintana!

5- VINÍCIOS CANÇÃO

O poeta que tinha

Uma essência, algo mais...

Do que apenas poesia

Foi Vinicius de Morais!

6- MÁRIO DE ANDRADE

Sinônimo de liberdade,

De expressar vocabulário;

O seu nome era Mário,

Mário de Andrade!

7- DEL PICKIA

a poesia matuta

Do Joca Mulato?

A poesia delícia...

Como é bom se lê

Menott Del Pickia!

8- FERREIRA GULLAR

Esse poeta espetacular

Que aprendeu a amar

De forma concreta

Não é outro poeta

Se não Ferreira Gullar!

9- FERNANDO PESSOA

Todo poeta é meio louco?

Não, eu falo numa boa...

Todo poeta só tem um pouco

De Fernando pessoa!

10- DA CUNHA LIMA

Em campina grande,

Na grande Campina,

Não há poeta maior

No verso e na rima

Do que esse Ronaldo

Da Cunha Lima!

11- PATATIVA DO ASSARÉ

Pra poesia matuta

Grito olé e grito viva!

Ainda mais se vier

Do poeta PATATIVA!

COTIDIANO

As nuvens chegam,

A chuva cai;

Alguém que vem,

Alguém que vai.

Assim eu vejo

Essa paisagem;

De mim mesmo,

Não é miragem!

O vento sopra!

O tempo passa...

Alguém me esquece,

Alguém me caça.

Não sou atleta,

Não sou amado;

Sou um poeta...

APAIXONADO!

OUTROS OLHOS

Teus olhos Maria Loura,

Teus olhos Maria Morena,

Teus olhos Maria Ruiva

Não cabem no meu poema!

Porque no meu poema

(no poema que escreverei)

Só cabem os olhos dela,

Daquela que sempre amei!...

Por isso, Maria Loura,

Por isso, Maria Morena,

Por isso, Maria Ruiva,

Fitar-me não vale a pena!

Só cabem no meu poema

Os olhos da minha amada;

Olhos negros, olhos claros,

De rubis... de esmeralda!...

SONHO DE AMOR

Sonhei com uma flor,

Com uma flor sonhei;

Um sonho de amor

Que jamais pensei...

Que não te contei?

É claro que não;

Pois o sonho de amor

Foi só ilusão.

Foi só ilusão?

É claro que não;

Ficou uma flor

No meu coração.

Ficou só uma flor

No meu coração?

(é claro que não)

Ficou um amor

Maior que a paixão.

LINDA

Você é linda,

Muito linda

Como água

Cristalina,

Com seu jeito

De menina,

Como raios

Que ilumina

Do sol quente

De verão

Todo o meu

Coração!...

Você é linda,

Muito linda,

E te amar

Não cansa não;

Você é linda,

Muito linda,

E renovou

Meu coração...

Quando falam

Do nosso amor

Se dizem sim,

Eu digo não;

Pois o que sinto

Não é paixão

Mas foi divina

Revelação!...

Pois para mim

Você é linda,

Muito mais,

Muito mais linda!

Do que a fauna,

Do que a flora,

Linda por dentro,

Linda por fora!

A mulher mais linda

De toda história!...

HOJE É DOMINGO

Hoje é domingo

Que dia mais lindo!

O sol vai nascendo

Ele vai escrevendo

Um poema de amor

Nos raios que brilham

No orvalho da flor!...

Mas hoje é domingo

Que dia mais lindo,

Que sol de verão!...

Apenas nos resta

Curtir esta festa

Na nossa visão:

Os pássaros cantando,

As flores brotando

Enramadas no chão!

Hoje é domingo

E ai quem me dera

Que a primavera

Florisse meu caminho!

E como um passarinho

Assobiando uma canção

E fizesse o meu ninho

Bem no teu coração!

Mas hoje é domingo,

Não fiquem sorrindo

Do que escrevo no chão!

Pois o amor que sentimos

É quase sem nexo;

É maior que o sexo,

Melhor que a Paixão!

TODA NOITE

Toda noite

Antes de dormir

Penso em você;

Vejo as fotos

Que você me deu

E fico pensando

Como será bom

Quando estiverdes

Ao lado meu!

E fico comigo

Imaginando

(quase sonhando)

Nós dois se beijando,

Nós dois se amando!...

Então vou dormir

Com muita saudade;

Entre a fantasia...

E a realidade.

COMO QUEM

VIVE A AMAR

Quem nunca escreveu um verso

Mas já teve um grande amor

Sabe porque escrevo assim,

Sabe porque sou escritor...

Sabe porque a minha prosa

Não parece com aquela rosa

Que encontramos no caminho,

Pobre flor sem ter espinho!

Meu verso é bem diferente

Fala do que todo mundo sente

Mas nunca se expõe a falar;

Eu escrevo aqui nessa hora

Como quem ri e como quem chora!

Como quem vive a amar...

CORAGEM

Ah, se eu tivesse coragem!

De dizer-te tudo que penso!

De falar-te dos meus sonhos,

Desse meu amor imenso...

Ah, se eu tivesse coragem!

De falar-te tudo -que sei?

Dos amores que nunca tive!

E dos amores que eu amei.

Ah, se eu tivesse coragem,

Coragem de falar-te, um dia,

Dessa paz, dessa alegria...

Que invade todo meu ser!

Ah, se eu tivesse coragem!

- Coragem de te dizer!...

SILVINO OLAVO

Cada verso que leio parece um cravo,

Cravos tão belos para sua amada;

Lendo “Cisnes e Sombra Iluminada”

De um poeta chamado SILVINO OLAVO!

Leio “Cisnes Brancos, Cisnes Pretos”,

-Eu não sei se existe o multicor-

Mas com certeza tu fostes o poeta!

O poeta dos cisnes e do amor...

“Cisnes Amorosos e Flutuantes”

Que poemas belos! Puros diamantes!

São coloridas pétalas de rosa...

SILVINO, como a vida é curiosa,

Há cisnes agonizantes no lago!

À “Balada dos Sonhos Mutilados!...”

UM DE SEUS POETAS

É aqui nessa terra, nesse solo único!

Nessa cidade que nos faz amar;

Pois tudo aqui nos faz telúrico,

Sou um passarinho a cantarolar!...

Vendo essas ruas, casas tão antigas,

Esse Museu, essa bela praça;

Cumprimentando as pessoas amigas

Ou vendo o trem que sob a ponte passa.

Nos teus braços é mais bela a vida,

Nessa terra que nos faz sonhar;

Cidadezinha do meu Paraíba,

Pois no teu vale brilha o meu Pilar!...

Com sua gente, essa mocidade,

Suas escolas, suas bibliotecas;

Não sou eu mesmo, mas é essa cidade...

Que me faz um de seus poetas.

SONETO

A José Augusto de Brito

Oh, meu grande poeta!

Tão cheio de glosa;

Tão perto da prosa

É o teu versejar.

Oh, meu grande poeta!

Que versos tão belos;

Tão puros e singelos

No teu versejar!

Mas aonde que moras?

No meio das rosas,

Na terra ou no mar?

A tua cidade

Existe, é verdade!

Se chama PILAR..

CANTEMOS

A NOSSA TERRA

(Letra do Hino Oficial de Pilar)

I

Cantemos a nossa terra

Que tanta beleza encerra;

Ela tem encantos mil,

É um pedaço do Brasil!...

No solo paraibano

Tem uma cidade bela;

Cidade que tanto amamos,

Pequenina e singela.

Tens a natureza

Mais bela da região;

Pilar Deus com certeza

Te fez com perfeição.

Pilar estamos gratos!

A Deus, nosso Senhor;

Porque és nossa cidade,

És palco do nosso amor...

II

És pequena no tamanho,

Mas teu seio é imenso em glória!

É tão curto o teu cantar

Mas estronda na história...

Aqui num olhar profundo

Te namorou Pedro II;

És conhecida até os confins

Nos romances de Zé Lins!

Pilar, terra amada;

Pilar, terra querida;

Pilar Deus te plantou

No Vale do Paraíba!...

Pilar estamos gratos...

A Deus, nosso Senhor;

Porque és nossa cidade,

És palco do nosso amor.

E AGORA JOSÉ?

(Quase paródia)

E agora José?

Cadê teu sorriso?

Cadê o teu jeito

De grande menino

Querendo brincar?

E agora José?

Cadê teu avô

Que não vem te buscar?

Cadê tuas tias

Do velho Pilar?

E agora José?

Sem Zefa Cajá,

Sem a velha Totônha

A noite é medonha;

Quem irá te alegrar?

O tempo passou,

O menino cresceu,

E ninguém percebeu

Que o mundo é engano

E que o passado ficou

Em completo abandono!

E agora José?

Cadê Papa-Rabo?

Cadê o moleque,

O menino Ricardo,

Que foi pra Recife

Pra homem feito voltar!

E agora José?

Cadê teu engenho?

Cadê teu avô?

Teu palco de amor,

Cadê, onde está?

Quem destruiu

O Engenho Corredor?

“E agora José,

José para onde?”

A noite está alta

E sentimos tão forte

A tua falta.

E agora José,

Aonde te escondes?

Nas páginas de um livro

Que gosto de ler

Sinto-me feliz;

Pois lá encontramos

Mais vivo que nunca!

O nosso ZÉ LINS.

CHIBATA PRETA

Quem é que não se lembra

De uma negra, CHIBATA,

Que morava na Estação

E cozinhava em uma lata?

Eu vinha de Chã de Areia,

Por Figueiredo passava,

E chegando na Estação

Chibata Preta encontrava!

Conhecida por Chibata,

Chibata, Chibata Preta;

A pobrezinha, coitada,

Não tinha estudo nem letra!

Era uma pobre indigente

Que morava bem ao léu;

Tinha por cama o chão

E por cobertor, o céu!

Era um amontoado de lixo

Na margem daquela rua;

Era a “casa” da Chibata

Iluminada pela lua...

E por que “Chibata Preta”,

Também queres entender?

Não era porque tinha uma chibata

Para se mesma defender...

Era porque a pobrezinha,

Que cozinhava em uma lata,

Era magra e pretinha

Parecendo uma chibata!...

Era a Chibata Preta

Conhecida no Pilar

E também da região

Que vinha nos visitar.

Era o terror das crianças

Aquela negra Chibata,

Que morava na Estação

E cozinhava em uma lata!...

Mas um dia a pobrezinha

Partiu da nossa cidade;

Pois passava frio e fome,

Tamanha necessidade!

E Pilar ainda se lembra,

E alguns sentem saudade;

Daquela mulher pretinha...

Que partiu pra eternidade!

CARRO DE BOI

Carro de boi, carro de boi,

(No caminho de barro).

Só conhece esse carro

Quem menino já foi!...

Carro de boi, carro de boi;

Lá vem o carro de boi!!

Corre menino, corre menina,

E pega carona no carro de boi!...

E depois da carona vem o carão

-Quem foi que subiu? Quem foi?

Quem foi? Quem foi o atrevido

Que se subiu no carro de boi?!...

-Foi ele! -não foi! –foi ele! -não foi!...

-Cuidado com a queda menino atrevido!

(E eu satisfeito, feliz atrevido,

Por ter me subido no carro de boi...).

CABECEIRO

Pega o inhame e põe no balaio

Pega a batata e põe no balaio

Pega a macaxeira e põe no balaio

Pega o abacaxi e põe no balaio

Pega o feijão e põe no balaio

Pega o milho e põe no balaio

Pega o amendoim e põe no balaio

Pega o jerimum e põe no balaio

E pega o balaio e põe na cabeça!...

E depois se tudo doer,

Doer e queimar feito faísca,

Pega o passado e põe no balaio;

E pega o patrão e põe na justiça!...

PILAR

Dessas palmeiras

Eu fiz meu poema;

Desses pés de figo

Eu fiz meu poema;

Dessas casas

Eu fiz meu poema;

Dessas calçadas

Eu fiz meu poema;

Dessas ruas

Eu fiz meu poema;

Desse rio

Eu fiz meu poema;

Dessas escolas

Eu fiz meu poema;

Dessa feira

Eu fiz meu poema;

Dessa gente!

Eu fiz meu poema;

Eu fiz meu poema!

Eu fiz meu poema...

CHÃ DE AREIA

Terra onde nasci!

Terra que me criei...

Terra onde aprendi

Amar quem tanto amei!...

Terra dos meus sonhos,

Semente dos ideais...

Saudade de minha infância,

“Tempo que não volta mais”.

Meu pai na agricultura

E eu só fazendo arte;

Pisando no seu roçado,

Correndo por toda parte!

Tomando banho de açude

Ou andando de bicicleta;

No terreiro jogando bola

Ó, Q’infância predileta!

Depois veio a escola

Com dona Antônia Tonê,

Onde fomos estudar

A cartilha do ABC.

Oh, meu Deus, essas lembranças,

Como posso esquecer?

Do meu tempo de criança,

Tempo bom de se viver!...

UM NOVO SÉCULO

Vivemos um novo tempo,

Uma nova época

De velhas atitudes.

Um novo século inicia-se...

E ai quem me dera

Se todos todos!

Fossem novas criaturas!...

Se fôssemos como criança;

Se sorríssemos como criança;

Se brincássemos como criança

E até brigássemos como criança!...

Mas é preciso acreditar

Que por trás da máquina

E do poder

Ainda existe espaço

Para AMAR!...

VERSOS EXTRAÍDOS DA RUA

Insaciados de sono,

Meus versos dormem na rua

Em completo abandono!...

São crianças, são adultos,

São rapazes, são meninos-

Velhos. Muitos velhos!

No abandono da rua...

No abandono da rua;

Sob o céu, sob a lua,

Batendo na porta tua

E a gente indiferente...

Coloquemo-nos no lugar

Da vida de um indigente!

Assim eu quereria

Escrever sempre meu verso;

Olhando só para vida

E me sentindo um universo!

DOR DE AMAR

Eu tenho uma dor intensa

Que quanto mais me curo!

Mais se torna imensa...

Eu tenho uma dor intensa

Que quanto mais me desenganam!

Mais me aumenta a crença!...

Uma dor que não é suspensa

Nem quando eu olho a vida

Com indiferença.

Ah! Eu tenho uma dor suprema!

Que não, não cabe dentro,

Do corpo deste poema!...

Eu tenho uma dor

Que me faz feliz:

É ainda acreditar na força

deste país!!...

NASCIMENTO

Um verso grita!

E o seu grito gritando

Ecoa em mil ecos distintos.

É assim que nasce um poema...

Ou uma guerra!

TERRÁQUEOS

Não somos mais do que somos,

Somos habitantes da terra!...

Desejamos morar em Marte?

Mas lá como faremos guerra?!...

A GRANDE GUERRA!

Homens de poesia

Não contem para ninguém

Que hoje é coisa fria

Escrever e amar alguém!

Que a vida não vale a pena

Sem sentimento profundo;

E que na terra está morrendo

Não somente o moribundo!...

Que na terra morrem crianças,

Dezenas em um segundo!

Pois a fome, a fera-morte,

É guerreira pelo mundo!...

Disseminando a humanidade

Em proporção biônica!

Sim! Já é uma realidade

Maior que a bomba atômica!!!

O MUNDO

O mundo está em guerra.

Um bode berra.

Um ônibus passa.

Uma carne assa

Se contorcendo na grelha!

Uma maratona.

Um atleta desmaia.

Um espetáculo.

Um show na praia...

Um pássaro canta.

Um homem canta.

E ninguém percebe

Que é pequenina a terra;

E que o mundo, meu Deus!

Está em guerra!...

GUERRA MUNDIAL

Uma guerra está acontecendo!

Uma guerra, uma guerra!

E nesse exato momento

Eu não sei dizer

Quantas pessoas já morreram!...

Está acontecendo uma guerra,

Uma guerra mundial,

E nem saiu nos jornais!

Que guerra silenciosa

É essa que não se vê,

É essa que não se pressente,

Mas está devastando a humanidade?

Não veio com a bomba atômica

Mas é uma guerra

Que nos deixa atônitos.

É ver crianças com fome!

É ver crianças vivendo?

É ver crianças sem nome!

Crianças matando e morrendo!...

A ALMA SONHA COM PAZ

A alma sonha acordada;

O corpo sonha dormindo...

Melhor sonhar com a alma!

Do que com o corpo que é findo.

A alma sonha com o Céu;

O corpo sonha com a terra!

As abelhas sonham com o mel

E os homens sonham com guerra!

Por isso escrevo com a alma;

Por isso não penso de mais.

O corpo sonha com o mundo,

Mas a alma sonha com paz!...

O ETERNO...

O eterno dos teus olhos é o teu sorriso!...

O eterno de tuas mãos brancas é o teu olhar.

O eterno do teu corpo é os teus sonhos

Que se não sonhares, outros vão sonhar!...

SE

Se a manhã não fosse nublada;

A brisa que vem sorrindo –gelada!

E as nuvens tão carregadas...

Se a tarde não fosse morena;

Se a noite não fosse escura;

E “se a alma não fosse pequena”;

Se o amor fosse sempre amor;

Se as mães nunca morressem!

Se os sonhos não se perdessem;

Se os dias fossem mais belos;

Se, de areia, os nossos castelos

O vento nunca levasse!

Se a guerra não explodisse;

Se o ódio não existisse;

Se a PAZ sempre reinasse!...

A BELEZA CALMA

A beleza calma do dia

Estará nos homens da terra?

A beleza calma do dia

Está no cessar da guerra...

ENVELHECER

Envelhecer é a arte de morrer

D i s f a r ç a d a m e n t e !...

LER

Quem muito lê tira a ferrugem das palavras!...

TÚNEL DO TEMPO

Não existe o túnel do tempo;

Existe o tempo do túnel!...

OLHARES

São como dois diamantes

O olhar brilhante

De uma criança...

São como dois girassóis

O olhar dos namorados

Quando estão sós!...

A MENTE CRIATIVA

A mente criativa

Nunca para de cria;.

Quando ela está dormindo

Ela está criando sonhos!...

COMO UM SUSPIRO

Como um suspiro bem fundo,

Como luz que enegrece,

Só existe você no mundo...

E você se desconhece!

O MUNDO

O mundo é um valo confuso,

O mundo é um pé de feijão?

Mas eu sou eu, eu me conduzo...

(embora alheio na multidão!)

RECORDAÇÕES

Não há rugas na minha face

Nem tão pouco morte aparente;

Só que essas recordações...

Envelhecem-nos...de repente!

MEU SAPATO

Se meu sapato inda existisse

Ele estaria sorrindo para mim!...

SE A NOITE NÃO

FOSSE ESCURA

Se a noite não fosse escura

As estrelas não brilhariam tanto!...

UM NOVO HORIZONTE

Eu sempre quis ser quem eu sou;

Nunca quis ser as outras pessoas.

Sou pássaro que gosta de abrir as asas,

Sentir o espaço, voar seu vôo...

Nessa longa, longa, longa estrada,

Estou sempre a reiniciar a caminhada!

E alguém me vendo não me pergunta nada.

Quem és?... Para aonde vais?!...

Por que essa canseira, esse olhar infante?

-estou a buscar um novo horizonte!

Dentro de Belo Horizonte?

Dentro das próprias pessoas...

GRITO DE GUERRA

Que o grito de guerra não fira

As cordas vocais da terra!

E que ela possa gritar muito mais...

pela PAZ!!!

CHUVA DE POESIA

Em meio ao mundo tão seco

Vem uma chuva macia

Cair em nosso telhado,

Escorrer em nossa biqueira

E deixar o campo molhado!...

Em meio a tanta tristeza

Vem uma chuva macia

Rompendo o calor do dia

Trazendo um banho de paz

Com seus pingos de alegria...

Seria a chuva de inverno

Que cai em nosso telhado,

Que deixa o campo molhado,

Que deixa a vida florida,

E que enverdece o sertão?

Em meio ao mundo tão seco

Sem paz, amor nem perdão...

Chove uma chuva macia

Que ninguém sabe a razão;

Uma chuva silenciosa

Bem no meio da multidão.

Que transborda as barragens

E também meu coração!...

POÉTICA DA LIBERDADE

A minha poesia é solta

E quem sou eu para pôr algemas

Em palavras asas!

Em poemas emas.

Quem sou eu, agora digo,

Para pôr o pássaro

Em um abrigo?

Numa gaiola,

Oh, que castigo!

O poema pássaro

É sub-azul?

Abaixo a métrica!

A prisão estética!

A poesia é mais alta...

A poesia é liberta.

Não, não quero

Ser o poeta!

(fiquem tranqüilos)

Apenas a minha

Poesia tem

Trocadilho!

Por isso eu rimo,

Rimo e desrimo!

Às vezes sou adulto,

Depois sou menino.

Então ela nasce

Tão feia e tão bela

Como a Cinderela?

Como a minha esperança

Brincando de roda

Feito criança.

TAMBÉM

Também faço versos

Metrificado e livre;

Eu faço versos

Como quem vive!

MEU TEMPO

Quero viver meu tempo...

Tempo de palavras vivas,

Tempo de horas marcadas,

Tempo de palavras nocivas!...

Não, não vou buscar

Minha alegria no passado;

Quero viver meu presente!

- Mesmo desencontrado...

Quero viver meu presente!

Jamais buscar nas cinzas

Espalhadas, quem eu era...

Pois no relento as partículas

De sílabas queimadas

É pura quimera!...

SER POESIA

O que você entende por ser poesia?

Essência do belo, do incrivelmente belo?

Soneto, quarteto, terceto, dueto?

Casas, museus, praça, castelo?

Paisagem vista ou não vista da janela?

Qualquer forma brilhante, esculpida, singela?

Um repente, improviso, cordel, cantador?

Ou um quadro pintado a óleo sobre tela?

Um poema cantado, declamado de amor?

Um romance tão belo de um grande escritor?

Ou um verso sem rima, forma, geometria?

O que você entende afinal o que seja

Essa coisa chamada de poesia, poesia?...

(sentimento de quando uma boca me beija!)

O QUE IMPORTA?

O que importa se alguém venha a dizer

Que não sou poeta porque não rimo,

Que sou infante feito menino,

Que sou inconciso no meu escrever!?

Porque não tenho um palavreado técnico

Desses que fazem o ouro substituir o barro.

Se dentro deles tem um coração –poético?

Tem uma tosse que não provoca escarro!...

Não quero na vida um milhão de arranjos!

Nem quero imitar Augusto dos Anjos

Para te dizer essa grande verdade...

Muito menos ser o poeta da fantasia;

Sentir a dor e só cantar a alegria!

Sonhar a vida, e não vive-la de verdade...

SE A POESIA...

Se a poesia não fosse

Do coração do poeta

Algo que lhe ferisse

Como uma flecha!

Se a poesia não existisse

Tão dura como uma pedra;

E se ninguém tropeçasse,

Tropeçasse nela...

Se a poesia fosse apenas

Um verso, não um poema,

Seria mais fácil entender?

Se a poesia não expressasse

Toda a realidade da vida

Não seria poesia...

SE EU FOSSE UM POETA

Ah! Se eu fosse um poeta!

Cantar-te-ia com maestria

Nos laços puros e belos,

Nos traços da poesia!...

Ah! Se eu fosse um poeta!

De divina inspiração;

Compor-te-ia uns versos

Parecendo uma canção!

Mas como não sou poeta,

Sou apenas um atleta

Do verso ruim, imperfeito!

Deslancho em poucas palavras

O vôo do pássaro sem asas,

Um rio que vem do peito...

TENTATIVA VÃ

Pensei que seria fácil

Esquecer a poesia;

Tentei cortar meu braço?

Tentei viver meu dia...

Pensei que era pecado

Contra Deus e contra o Céu!

Viver com a poesia

Debaixo do meu chapéu.

Sem nenhuma compaixão,

Um dia fui à extrema

Decisão da loucura

-pus fogo em meus poemas!

Mas não, não pus fogo

Em mim!... -Fiquei ileso;

As cinzas foram-se ao vento...

E eu fiquei em mim mesmo!

NÃO IREI ESCREVER

UM VERSO

Não irei escrever um verso

Só porque o verso é verso

E serei assim reverso

O autor do cujo verso!...

Eu irei escrever um verso

Quando ele não for mais meu,

Quando ele me convencer

Que sem nascer ele nasceu!

Com seu jeito todo torto,

Agressivo, franco e terno;

E que já não me pertence

Mas pertence ao mundo externo!...

Oh, verso, verso, verso!

Como é bom senti-lo assim;

Que da minha mão surgiste

Mas estás longe de mim!...

CONSTRUÇÃO

Eu construo uma cidade,

Uma cidade de palavras

Com bairros, avenidas...

E um hospital da saudade!

Eu construo uma cidade

Com milhares de habitantes;

Alguns vestidos de trapos

Outros de ouro e diamantes!

Eu construo uma cidade

Que para dizer a verdade

Não trata bem os visitantes;

Porque alguns querem o ouro,

Tirar-lhes os diamantes!

Com os seus olhares infantes...

O MAIOR PERIGO

Não critiquemos quem faz soneto,

Quem é antigo ou quem é moderno;

Quem é passageiro ou quem é eterno!

Inovador... ou obsoleto!...

O maior perigo não é sonhar;

Mas ter a mente de um imortal.

Julgar-se entre todos o genial

E ter o prazer de ignorar...

Ignorar do leigo, a poesia.

Elogiar sempre a Academia;

Aceitar toda, qualquer homenagem!

Sentir-se um herói, um Dom Quixote,

E não ver que na vida o seu pacote

Não passou de sonho e de bobagem!

POESIA VIVA

Corre pelas minhas veias,

Atrapalha meu coração;

Passeia pelos meus olhos...

Vejo nos lugares

E nas outras pessoas;

Passeia pelos ares

E está edificada nos museus!...

Ela está na natureza

-nas flores, nos rios,

Nos cânticos dos passarinhos!

Também está na tela

Dos pintores

E na tela da TV!

Sim! Ela anda pela rua

De pasta na mão,

Gravata e paletó!

Sim! ela também anda

Em busca de emprego.

Também está no bonde,

No arranha-céu, no avião!

Também está na criança

E na saudade do mundo velho.

Sim! Ela está em todos lugares

E em todos os tempos;

“Sempre haverá um coração batendo

E um poeta escrevendo!...”

O POEMA APRESSADO

O poema não espera pelo poeta...

Ele apressado, quarteirão à frente,

Corre pela cidade, solto...

Feito gente!

E se confunde e nos confunde;

O poema é multidão...

E de repente ele sorri

Na minha mão!

Verso após verso o edifico,

Como arquiteto da imperfeição

O poema que nasceu no ruge-ruge

E morrerá de solidão...

(Março de 1993)

O POEMA FEIO

Certa vez escrevi um poema;

Que poema feio!

Os versos desmetrificado;

As rimas de pé-quebrado;

O texto sem ter teor,

O teor sem ter sabor...

Assim era o poema

Que depois eu li

Com tanta pena.

Não do poema!

Mas do poeta

Que lutou, lutou,

Mas não conseguiu

Agarra-lo

Em sua fuga inusitada!

Sim, esse poema

Que nasceu de mim.

E agora ele me olha

E é como se me falasse!

Eu nasci feio, mas nasci livre...

EU QUERIA ESCREVER

Eu queria escrever

Uma poesia

Que corresse de mão em mão,

Que corresse na direção

Sempre de outra mão!

Eu queria escrever

Uma poesia amarga e doce,

Uma poesia que expressasse

O sentimento de quem ama...

Eu queria escrever

Com o sentimento mais profundo,

Uma poesia que mudasse

O desmantelo do mundo!...

Uma poesia que mudasse

O desmantelo do mundo?

Uma poesia que mudasse

Pelo menos o meu ser;

Que me fizesse sorrir

Quando estivesse a sofrer.

UM PEDAÇO DE POEMA

Um pedaço de poema seria o suficiente

Para imortalizar um homem.

Mas o que importa?

Eu não quero a imortalidade do nome;

Eu quero é a imortalidade da alma!...

A MAIOR E MELHOR RIQUEZA

A maior e melhor riqueza,

Dentre todas a mais bela,

É aquela que podemos

Entrar no Céu com ela!...

SER SEM SER

Não, não sou poeta!

Apenas analiso o ser.

E sem ser, às vezes sendo,

Para melhor entender!...

A arte funciona assim.

Só desejo me compreender;

Por isso finjo-me distante de mim

Observando todo meu ser!

Porque o ser sem ser,

Nessa coisa de escrever,

É melhor do que o ser!

Por isso, às vezes, sou não sendo

Para melhor ir aprendendo

A mim mesmo, conhecer!...

NÃO QUERO SABER

Não quero saber

Da poesia moderna,

Nem da neomoderna,

Nem da pós-moderna;

Do homem do espaço,

Nem dos hieróglifos

Do homem da caverna!

Não quero saber

Da Poesia Concreta,

Da poesia abstrata

Do imaginário poeta!

Não, não quero saber

Da poesia escultural;

Do poeta esculpindo

Sua musa magistral!

Nem quero saber

Da poesia absurda!

Eu já conheço

A sua fórmula

Muda e surda.

Sim! quero apenas saber

Da poesia virginal!...

Escrita com o coração,

Com a linguagem universal!

AUTO-RETRATO

Sou branco e azul,

Verde e amarelo.

E tenho um sorriso

Que não é tão belo!

Tenho um sorriso...

Que sorriso banguela!

Mas uso prótese

Que ninguém desconfia.

Escrevo poesia

Que às vezes publico,

Que às vezes esqueço...

Mas não deixo de ser

O melhor de mim

Que ainda não sei!...

PREFERÊNCIA

A inspiração existe

E não a troco por nada!

O raciocínio existe

Mas não cria em revoada.

Prefiro ser um romântico

Do que ser bem moderno;

Para juntar no meu cântaro

As águas desse inverno!...

Prefiro ser antiquado,

Ser um poeta quadrado!

Do que ser redondo ileso...

Prefiro ser desse jeito,

Fiel a este meu peito!

Prefiro ser eu mesmo.

O POETA MÁGICO

Meus óculos de sol,

Meus óculos de chuva,

Meu rouxinol

E meu guarda-chuva!

Minha lâmpada acesa,

Meu olhar atento;

Minhas recordações

E minha máquina do tempo!

Meu picadeiro,

Minha cartola

E meu coelho ausente!

Minha nave,

Meu planeta

E minha gente!...

NAVIOS

Farol aceso

Navios no mar

Querem ilesos

Ao cais chegar.

Cuidado com as pedras

Navios no mar!

Há um farol aceso,

Aonde está?

Há navios querendo

Navegar em paz;

Desviar das pedras,

Abortar num cais.

Cuidado, poetas

De algum lugar!

Sempre haverá um navio

Querendo chegar.

Trazendo versos

Para agente rimar;

Trazendo lágrimas

Para agente chorar!

Trazendo canções

Para agente cantar;

E recordações

Para agente lembrar.

Trazendo, trazendo,

Querendo deixar

A nossa alegria...

Do tamanho do mar?

Por que os navios

Não vem carregar

A nossa tristeza

Para o meio do mar?!..

SÚBITA POESIA

Às vezes passo um mês...

Sem escrever nada!

Mas de repente, num único dia,

Escrevo quase toda poesia!...

É como chuva repentina,

Enxurrada de verão,

E inúmeras vezes me pegam

Sem guarda-chuva!...

Quando releio meus poemas

O faço de caneta a punho;

Estou sempre me transformando.

O que disse ontem

Concordarei amanhã?

Por isso o mais, sempre o mais

Importante é o hoje!...

O hoje é tudo,

Amanhã talvez...

O ontem foi ontem.

O hoje está dentro

E fora de mim...

TUDO ME PROÍBE

(À maneira de Drummond

e Fernando Pessoa)

Tudo me proíbe

Escrever-te um poema;

A manhã não está nublada

E a tarde não está morena!

Tudo me proíbe

Escrever-te um poema.

Meu coração está sangrando...

E minha alma está pequena!

As nuvens, o vento, as pessoas;

Tudo me proíbe,

Tudo me proíbe!...

Sem falar nas minhas mãos

Que estão sujas!

E eu não consigo cortá-las.

MINHA VIDA

Minha poesia é feita de sonhos?

Minha poesia é feita de sangue?

Minha poesia é feita de terra,

De rio, de mar, de praia e de mangue!

Minha poesia é feita com a alma

Porque a alma é que sente tudinho:

A angustia da dor, o prazer, a alegria...

A esperança de um novo caminho!

Minha poesia é feita de vida,

De vida vivida em pleno viver;

Que importa o ocaso? –Faz parte da vida

Nascer e crescer; lutar e morrer!

Minha poesia é feita de cor...

E ela também é feita de luz;

Minha poesia é feita de amor,

Do amor que descobrir em JESUS!

Minha poesia é quase canção.

Minha poesia é quase poesia;

Ela trás as batidas do meu coração,

Minha tristeza e minha alegria!...

A minha vida é quase um poema

De um poeta pequenino em si;

Nesta vida que, como é pequena!

-Mal chegamos estamos a partir!

Mas minha vida não é fantasia;

Minha poesia não é ficção!...

Minha poesia é todo o meu ser

Que luta, que vence, que briga em vão!

ANDÁVAMOS

“Andávamos desgarrados

Como ovelhas sem pastor”;

Até que um dia um poeta disse:

- “Vamos de mãos dadas”...

INFANTE

A minha poesia é

Infante feito criança...

Mas a vida é um carrossel

Brincando com a esperança!

FEITOS DE BARRO

Olhando o mundo

O mundo bizarro

Expressamos a dor

De sermos feitos de barro;

Ah, se nós fôssemos

Feitos de cobre!

Seriamos mais rico

Ou seriamos mais pobre?

Além do mais

Teríamos mais paz?

Seriamos condutor

Do mais puro amor?

Ou seriamos um entulho

Do mais puro orgulho?

Deus sabe o que faz;

Somos feitos de barro

E que não Volte atrás!

De um barro tão belo

Resistente ao calor

De um barro singelo

Nas mãos do Senhor!

Para que o barro

Depois de aprovado

No fogo apurado

Não corra o risco

De se quebrar!...

REVELAÇÃO

Pensei que não fosse mais sorrir

Pensei que não fosse mais sonhar

No dia que meu amor partiu,

Partir para nunca mais voltar!...

Pensei que não fosse mais amar

E até pensei não sobreviver;

Foi quando ouvi o Senhor falar

A frase que mudou todo meu ser!

“Escutai, pois a voz do Senhor!

Mostro-te agora o teu novo amor

Que mudará, pois, o teu destino...

NEIDE será o teu diamante

A companheira de todo instante,

Mãe de tua filha e de teu menino”...

O AMOR DE DEUS

Eu não sei explicar porque razão

O Senhor me tem tanto amor assim;

Quando pensei, pois, ter chegado ao fim

Vendo minha esposa falecida ao chão!...

Eu não sei explicar porque razão

O Senhor me tem tanto amor assim;

Pois seria destruído, pobre de mim,

Se não fosse a sua poderosa mão.

Como um oleiro que refaz o vaso

Acredito que não foi por um acaso

Que Tu remodelaste a minha vida...

Louvarei-Te porque me confortaste

Quando um novo amor Tu me revelaste...

-Minha IVONEIDE, a minha querida!!!

SONHAR É PRECISO

O poeta que não sonha

Deve ser decapitado!

Não decapitada a cabeça,

Mas decapitada a alma!...

Porque a alma é poesia.

Pobre alma do poeta!

A alma que não sonha

Vive em prisão perpétua!...

Sonho, sonho, sonho!!

Porque sonhar, é preciso;

Mesmo quando as lágrimas

Naufragam o meu sorriso!

Que importam as tormentas

Do nosso cotidiano?

Dizem que o amor não existe?

-Sonho com quem eu amo...

E AGORA, DRUMMOND?

Se você sorrisse,

Se você chorasse,

Se você tossisse,

Se você sonhasse!

Mas você está longe

Com o seu olhar distante;

Mas você esta duro

Como um quadro na parede!...

E agora José?

- José que não vi,

José que não conheço;

José meu amigo

Que nunca me esqueço!...

Ah! se você chegasse

Nessa noite serena,

E cantasse uma valsa

Ou escrevesse um poema!

Mas você esta longe...

Você está longe,

Drummond!

Não, você não ressuscitou!

Ao terceiro dia!

Nem mesmo prometeu

Que ressuscitaria.

E o que escreveste

Jamais pensaste

Ser eterna poesia!...

O poeta sério,

O poeta de vidro?

O poeta de ferro,

O poeta diamante

Das minas de Minas!...

E agora, Drummond,

Como morrer de novo?

Como não ser lembrado

Não ser bajulado,

Por todo esse povo?...

TRÊS POEMAS

I

Eu não tenho vergonha de dizer

Que gostaria de escrever

Como Carlos Drummond de Andrade.

Mas na realidade eu não

Me preocupo em escrever diferente;

Pois cada poeta escreve

Um pouco do que ele sente!...

Confesso até que tem algumas poesias

Do meu admirável poeta

Que eu não acho bonitas;

Mas o que importa se ele estava

Realmente, intrinsecamente!

“Preso à vida

E olhava os seus companheiros”...?

II

Como a poesia perdeu-se tanto!

Como a poesia se faz tão fria;

Morta, morta, morta,

Na melancolia da tarde fria;

Na frieza desse fino dia...

Já não se toma a poesia

Como uma xícara de café quente;

Como um morno morno leite,

Do peito da própria vaca!

Agora tudo é diferente,

-empacotado, refinado, pasteurizado!

Não tem o sabor do fogo de lenha

Nem o cheiro do curral...

Cadê o telurismo?

-o amor à terra natal;

Onde estão os poetas?!

(ouvindo música internacional!)

III

Parem a nave, parem a nave!

Pare pare pensamento

Que eu não vou escrever nenhum poema

Que não fale do meu tempo!...

Não, não irei voar,

Para Marte nem para Vênus;

Não irei somar demais

Nem irei multiplicar

Minha vida vezes menos!...

Não, não cantarei,

O tempo futuro!

Não serei de vanguarda,

Nem serei do monturo.

Quero apenas cantar

A cantiga do amor

Moderno e matuto.

Também não serei o poeta

De um tempo absoluto!

Quero apenas cantar,

Ao som da viola,

Uns versos que trago

Na minha sacola.

Carlos não cantou,

Por que cantarei?

Meu tempo é agora,

Ontem não fui,

Amanhã, serei?...

O POEMA

O poema mesmo se escreve

Na folha de papel em branco?

O poema que nasce manco

Depois eu aprumo a perna?...

O poema não vem no vento,

O poema não tem pensar;

Apenas expressa o pensamento

Do poeta do lugar!...

TALVEZ

Se a gente sonhasse,

Sonhasse de dia;

Se a gente se amasse,

Se amasse, Maria!

Mas Maria não sonha,

Maria não vem,

Maria não sabe

Que eu lhe quero bem!

Ah! Se a gente sorrisse,

Se a gente cantasse!

Se a gente tossisse,

Se a gente espirrasse!

O coração tão triste

Talvez disparasse;

Talvez a dor sumisse,

Talvez Maria casasse.

Se a gente sorrisse,

Se a gente chorasse;

Um dia mais lindo

Talvez nos raiasse!...

VAMOS EXISTIR!

Vida, vida, vida...

Eu não acredito em sina;

Se eu me chamasse José

Nem mesmo seria uma rima!

Luta, luta, luta!

Vivemos para lutar;

Caio e levanto-me

E continuo a sonhar!...

Se eu fosse um navegante

Onde estaria o meu barco?

Se eu fosse um astronauta

Em que planeta estaria?

No oceano das ilusões

Não naufragarei meus sonhos;

Nem num planeta distante

Habitarei exilado.

Eu quero viver,

Chorar e sorrir!

Quero ser de verdade...

Eu quero existir!

YOLANDA QUEIROGA

Não encontrei dentro da noite

Ninguém que cantasse assim;

Essa canção que ecoa

Fora e dentro de mim.

Seria um sapo na lagoa

No seu coaxar sem fim?

Ou seria um grilo a toa

Cantando perto de mim?

Não era grilo, nem era sapo,

Cantando no meu jardim;

Era a voz de uma mulher

Cantando um pouquinho assim:

“Eu tenho dentro do peito

Uma saudade sem fim;

De tudo que foi desfeito

E não torna para mim.”

Cantando dentro da brisa

A melhor poesia em voga;

Era a voz da poetiza

YOLANDA QUEIROGA!...

MARIO LAGO

Navios a postos,

Saudades ao mar;

Que o poeta

Quer navegar!...

Ele é capitão,

É tripulante

De um olhar sereno

E de outro infante.

E navega apenas

Aonde há mar?

Navega também

Aonde há lago...

Lago, lago, lago...

Como é bom navegar;

Mas também navega

Na fúria do mar.

Mar sempre mar?

Lago sempre lago?

Que importa se serás

Sempre Mário Lago?

Mário, Mário, Mário;

Lago, lago, lago!

Sangue nas veias,

Lágrimas no olhar...

Mário que é Lago,

Lago que é mar;

Cheio de palavras

E do verbo amar.

Mas como é bom

A gente lembrar

Desse lago-mar,

Desse Mário Lago!

FERNANDO PESSOA

Quando disseram que os meus versos

Se pareciam com os de Fernando Pessoa

Na sua simplicidade, eu quis conhece-lo...

Então fui à sua casa

E chegando lá abri a porta

E folheando as páginas,

Pedi licença e entrei.

Mas quem me recebeu

Foi um tal de Alberto Caeiro!

E após alguns minutos de conversa

Conheci outro residente da casa

Chamado Ricardo Reis.

E chegando à cozinha,

Encontrei outro magnífico poeta

Chamado Álvaro de Campos!...

Mas cadê FERNANDO PESSOA?!...

Fernando Pessoa é só o nome da Rua,

-Responderam-me.

Então voltei para casa

Olhando o céu e contemplando a lua

E dizendo comigo mesmo...

-ah, se essa lua se chamasse Fernando Pessoa!

ADÁGIO POPULAR

A Landoaldo César

Quem espera sempre alcança!

E quem corre cansa?

E quem fica como avança?

Quem anda alcança...

A criança é a esperança;

E o velho o que será?

O velho que foi criança

Já não pode traquinar...

Tem vontade mais não pode

O velho que se sacode!

Com vontade de brincar.

Alguém que para, alguém que corre;

A esperança nunca morre!

Esperem que eu chego já...

POEMINHA ROMÂNTICO

À MINHA CIDADE

A minha cidade

É muito pequena,

Mas a sua beleza

Não cabe nos versos

Deste poema.

A minha cidade

É muito pequena

Mas sua história

Tão cheia de glória

Não cabe nos versos

Deste poema!

A minha cidade

É muito pequena

Mas as suas ruas

Tão desiguais,

Tão cheia de paz,

Não cabem nos versos

Deste poema.

Neste poema

Tão curto, tão falho,

Não cabe se quer

O seu orvalho

Que nesta manhã

A deixa mais bela.

Pudera canta-la,

Ai quem me dera!

Só cabe nos versos

Deste poema,

A minha saudade

(que não é pequena)

Cruel e sem pena!

Da minha cidade

Que é tão pequena!

AGORA

Meu senhor, minha senhora,

Minha criança, meu vaga-lume;

O futuro não quer mais estrume!

O futuro quer falar agora...

Agora todas as esperanças!

Agora todos os ideais;

Agora tudo que ficou pra trás!

E que nunca deixou de ser...

Porque o futuro

Sempre esteve presente

Embora inocentemente.

Nenhum amigo se fez tão antigo;

Nenhum grito ecoou tão perto;

Nenhum deserto se fez tão jardim!...

Meu senhor, minha senhora,

É chegada a hora de dizer AGORA!!!

(Escrito em 1999)

MORTE AO POETA!

Querem-me ser taxativos:

Matar de vez o poeta!

Chega de tanta tolice

Dessa esperança patética.

Querem-me ser taxativos:

Matar de vez poeta;

Oh, críticos sedentários!

Melhor não é ser um atleta?

Até meus entes queridos

Querem matar o poeta;

Chega de tempo perdido

De parecer um pateta!...

Até meus falsos amigos

Querem que eu seja um esteta;

Querem-me ser taxativos:

Matar de vez o poeta!

É melhor me cortar as mãos!

Deixar minha vida incompleta;

Do que me arrancar os sonhos...

- Matar de vez o poeta!

MAIS UMA VEZ

Mais uma vez a história renova.

Verso após verso,

Prosa após prosa.

Mais uma vez a história renova!...

Mais uma vez sorri e sonhei;

Mais uma vez sonhei e sorri.

Mais uma vez cai e chorei,

Mais uma vez eu existi!!...

Mais uma vez escrevi meu romance,

Mais uma vez escrevi meu poema;

Mais uma vez eu perdi a chance

De beijar a tua boca! – Morena!

Morena que é tudo pra mim,

-Morena de toda hora;

Morena que vive comigo

Até quando eu for embora!

Mas afinal, quem é Morena?

- Morena é só ilusão?...

Morena é a minha vida

Que arde em meu coração!

UM NOVO POEMA

Um novo poema

Quero escrever.

Mas não brade aos mares,

Nem à brisa, nem aos ares!

Que um novo poema

Eu quero escrever...

Porque, Madalena,

Eu não sou poeta;

Porque, Maria,

Eu não sei da poesia;

Porque, Isabel,

Eu não sou um arcanjo;

Eu moro na terra.

Tão pobre, tão dura,

Tão cheia de guerra!

Eu não mereço

Um verso que seja.

Oh, poesia! Por quê

Minha boca tu beijas?

FÁBRICA DE VERSOS

Fabrico versos

Versos de amor

De amor e protesto!

Versos, que serão lidos?

Fabrico versos

Que serão lembrados?

Serão amados?

Serão cantados?

Fabrico versos

Que serão esquecidos...

Até mesmo eu

Esquecerei-me.

Mas então, por que?

Por que fabrico?

-porque sou

Fábrica de versos...

Vou transformando

A matéria prima:

Comendo palavras

E vomitando rimas!...

SONETINHO

A MÁRIO QUINTANA

Amo a poesia simples

Que sempre emana

Das mãos desse velhinho

Chamado Mário Quintana.

Que poesia triste!

Mas cheia de esperança;

Desse que ainda queria

Ser a mesma criança...

Nunca me esquecerei

Que existia uma Rua

Onde lá encantava a lua...

Nunca me esquecerei,

Em meio a tantos lamentos...

Da “Rua dos Cata-ventos!”

NATAL

Chegou o natal! Chegou o natal!

Alguém dirá

Outro rirá

E cantará

Chegou o natal!chegou o natal!...

Thingobel, thingobel,

Cadê Papai Noel?

Cadê meu presente, papai?

Cadê meu presente, mamãe?

Afinal... chegou o natal!...

Estão batendo à porta,

Será Papai Noel?

Não... É um velhinho pedindo esmola;

É uma criança cheirando cola;

É o mundo com fome...

É o triste natal das pessoas lá fora!

APARÊNCIA

Então me vejo no espelho

E noto que o tempo vai

Passando e que me assemelho

Cada vez mais com meu pai!

Os cabelos que aos poucos

Vão se tornando escasso;

Até os mesmos pensamentos

Como também os meus passos!

Meu pai no seu torrão,

Na sua agricultura;

E eu aqui nesse sertão

Feito de literatura!

Com minhas mãos calejadas,

(de calos que não existem);

E o meu olhar colorido

D’esperanças que resistem!...

É assim que eu vou vivendo;

É assim que o tempo vai;

E eu vou me parecendo

Cada vez mais com meu pai!

JUSTIFICATIVA VÃ

Quem diz que eu sou poeta

Engana-se completamente;

O poeta verdadeiro

Só fala do que ele sente!

Eu falo da minha dor

E falo da que não sinto;

-também falo da dor dos outros.

Porém eu nunca minto.

É verdade, porventura,

Toda dor da criatura

Não é igual em si própria?

Se alguém sofrendo está

A grande dor, a dor de amar...

Não, essa dor não é microscópica!

O MAIOR

O maior pintor que existe,

Digo com toda certeza,

É o criador de tudo o que vemos;

Ele pintou toda natureza!

O maior poeta que existe,

Para saber entre os seus,

Basta ler Eclesiastes, Cantares...

Para veres a poesia de Deus!

O maior arquiteto que existe

É aquele que num olhar profundo,

Fez a terra, o céu e o mar...

Fez tudo que existe no mundo!

Mas a obra prima de Deus

Vou revelar para vós;

Não é a terra, as estrelas...

Pois saiba que somos nós!

E o maior dos sentimentos,

(maior que a alegria e a dor)

E também dos mandamentos,

Cristo ensinou... –é o AMOR!

SER

Eu falo uma língua universal

-a do vento;

E o meu coração é feito de sal

-sentimento.

Com os meus olhos opero única vida

- mútua;

E o que faço dela ninguém acredita

- busco-a!

Não nego e nem grito, mas sou poeta

-menor;

E ser o que sou é quase um martírio

-uma dor!

Carrego em meu peito uma grande esperança

-e só;

Pois acredito como toda criança

No amor.

No amor que transforma, que regenera

a alma;

Neste amor “messiânico” que cura

e salva -!

CAÇANDO PALAVRAS

Estou sentado

Na cadeira;

Estou na trincheira

Com a arma na mão.

A minha caneta

Na noite alta

Já foi mais rápida:

Já derrubou

Astronauta!

Hoje apenas

Caço palavras

Que sobrevoam

Perto de mim.

Hoje apenas

Caço palavras

Atirando com uma

Arma de festim!

ESCREVENDO

Eu só sei que vou escrevendo!

Do restante muito pouco eu sei;

Escrevo porque estou vivendo

E viver é amar, quem não amei?

Escrevo porque a vida é engraçada;

E como vem a nos surpreender!

Escrevo porque não sei fazer mais nada;

Escrevo porque amo escrever...

Escrevo de dia e de madrugada.

Sou um “jutador de palavras”

Caçando uma nova emoção.

E o que importa a rima torta?

A assimetria, o que me importa?

-Se eu escrevo com o coração!...

JOÃO BRASIL

Acorda João!

-A condução;

São cinco horas!

Se não, se não...

É dia santo,

É feriado,

É João Brasil

Desempregado!

Acorda João!

-A condução;

São cinco horas!

Se não, se não...

Mas João Brasil

É democrata,

Não suporta

Ser burocrata;

Xinga a mulher,

Xinga o patrão!

Depois se cala

Se não, se não...

É dia santo,

É feriado,

É João Brasil

Desempregado,

Desquitado!

Processado

E confinado

Numa prisão!...

-Numa prisão

Acorda João...

EU NÃO TENHO

Eu não tenho o olhar de Drummond,

Eu não tenho as mãos de Camões;

Eu não tenho o lirismo de Bandeira...

Meu Deus! Cadê as minhas ilusões?...

AMO A LIBERDADE

Amo a liberdade!

A liberdade de ir e vir,

A liberdade de chorar,

A liberdade de sorrir!...

Amo a liberdade!

De cantar uma canção;

A liberdade de gritar

Com a voz do coração!...

Amo a liberdade

De viver despreocupado,

De andar desarmado

Pelas ruas da cidade!

Amo a liberdade

De poder ter liberdade!!...

ALMA VIVENTE

Eu vejo a poesia como se visse uma pessoa

Que fala, que pensa, que diz o que quer!

Eu vejo a poesia como uma alma vivente,

Eu vejo a poesia como uma linda mulher!...

Eu vejo a poesia como se fosse uma musa

Que chega de noite e coabita com o poeta;

Mas que pela manhã se levanta e vai embora

E ele fica surpreso sem saber quem ela é!

É loucura talvez pensar assim deste jeito

Mas o que importa se ela arde em meu peito

Como alguém que me abraça e me quer?...

O que importa se me chamam de obsoleto,

De piegas e romântico o meu pobre soneto?

-Pois eu vejo a poesia como uma linda mulher!

PINTANDO UM SONETO

Eu quero aqui neste espaço em branco

Escrever meu verso, pois eu me meto

Ser um poeta fazendo um soneto

Para que todos saibam que te amo tanto.

Na esperança que numa tarde linda

Alguém me lendo sinta a emoção

Que senti um dia ao segurar tua mão

Pela primeira vez que recordo ainda...

Eu quero aqui neste espaço em branco

Sorrir meu riso, enxugar meu pranto,

E colorir o mundo que está tão preto.

Procurando cores (talvez em vão)

Para colorir esta composição...

Como um pintor fazendo um soneto!