CAMINHADA

Descalço entre pedras,

longe da confusão profusa

A maré subiu, levou os sonhos

que haviam sido deixados na beira da praia

Sonhos são estrelas inalcançáveis

com milhares de pontas detentoras de um brilho surdo

Cada ponta revelada é um universo

que morre de inanição

num leito qualquer de um hospital sem recursos

Mas e eu?

Eu choro, sou água ou lágrima? Enfureço, sou fogo? Desboto,

sou pano? Eu grito, sou dor? Eu queimo, sou oxigênio? Durmo,

sou sono? Ou dormindo, sou sonho? Me iludo, sou utopia? Eu

bebo, sou boca? Crio, sou vida? Mato, sou morte? Eu toco,

sou tato? Eu sinto, sou sensação? Perco, sou derrota? Ganho

sou vitória? Rio, sorrio, sou felicidade? Eu vomito, sou indiges

to? Me perco, sou errado? Me encontro, sou correto? Eu boio,

sou bosta? Eu encanto, sou amor?

Não, eu vivo e eu morro...

sou carne

Morpheus