Chuva que cai...
 

Chove chuva...
 
Chove em meu solo sofrido
Com fendas profundas
Rachado pela intensa sequidão
Que o sol assola ano após anos
O solo do meu sertão,
Que espera a chuva...
Sorte, vida e morte
De quem vive neste rincão...                                                                                                                                                                                                   
 
Chove chuva...
 
Cai em um solo quente
Quente e ressequido
Em chagas e feridas
Como as de Lazaro
As que o deixaram enfraquecido...
Mas como o tal legado
A latente capacidade
Pela fé de manter-se vivo...
 
Chove chuva...
 
Mesmo que sejas a primeira
Apenas para limpar as biqueiras,
Para baixar a poeira,
Alagar as passagens,
Alongar as viagens,
Prender em casa as companheiras
Soltar as solteiras...
 
Chove chuva...
 
Cai em um solo escaldado
Pelo sol quente,
Pelo vento rasteiro,
Pelo pisar dos brutos
Que focinham o que restou
Tentam escapar da fome e da sede
Da seca secante, dos pedintes
Ate mesmo dos passantes.
 
Chove chuva...
 
Cai insistente em um solo
Que teimosamente
Não permite ser infiltrado
Naturalmente ou propositalmente,
Sabiamente ou voluntariamente
Permite somente que
A chuva que cai insistentemente
Desça em suas fendas,
Como a cura verdadeira
De suas rachaduras...
 
Chove chuva...
 
Em um solo que parece louco,
Mas aos poucos cedente
Rapidamente ou tão lentamente
Vai cedendo aos poucos
Não convencido, porem vencido
O seu estado de fervor
O seu estado de torrão...
 
Chove chuva...
 
Cai como um milagre,
Milagre das águas bentas,
Transforma terra tórrida
Em terra fértil...
As fendas desaparecem
E o lago se forma.
O peixe hibernado
Desiberna e volta
Ao nado como dantes.
O sapo da beira da lagoa
Volta saltitante...
 
Chove chuva...
 
Na terra que logo aparece
O rasteiro pasto verdejante.
Brotando, brotando...
As ervas daninhas,
Os mata-pastos,velames  e
A vegetação pasteira...
 
Chove chuva...
 
Que faz desaparecer
A caatinga seca, e uma nova
Surgindo com o cantar do canário
Da graúna, do sabiá, da patativa,
Dos pássaros alegres e cantantes,
Um cenário de aquarela,
Reflorescida, revigorada e
Cheia de vida vegetal e animal...
 
 
Chove chuva...
 
O sertanejo da janela
Não sabe se sorri
Ou se agradece
Pela nova vida
Que a chuva deu
Ao seu esquecido... Lugar seu.
Mas tem ele a certeza
Que a natureza
Trar-lhe-á abundancia
Pra si e pro seus...
 
Chove chuva...
 
É tudo que este solo
Pediu a Deus...
Abençoado solo meu...
 
Rio de Janeiro,
 20 de outubro de 2000
 
Francisco Rangel
Enviado por Francisco Rangel em 05/12/2011
Código do texto: T3372946
Classificação de conteúdo: seguro