Tem dia que a gente acorda e a saudade dá bom-dia

Cheiro de terra molhada, de café bem cedinho e lavanda no cabelo.

Melodia de cantigas de roda, panelinhas de barro, fogão de carvão, pedaço de gesso para riscar o chão.

Livros, lápis de cor, farda e sapatos novos. O silêncio dos olhos do meu avô. Fox, o cachorro perdigueiro que mastigava as roupas da minha infância.

Tem dia que lembro dos antigos abraços, das partilhas secretas de palavras às vezes nem ditas, dos cheiros dos natais e seus jambos e siriguelas, das risadas emaranhadas nos bancos escolares, das lágrimas imaturas de quem não sabe lidar com a vida.

Tem noites que olho para a lua, a mesma de outrora, mas agora ela me lembra que o tempo passou e levou a minha boneca, o meu chinelo 'japonês ', o encontro diário com os amigos. E não posso voltar. E não podemos voltar. E a vida nos leva em frente e não considera o passo atrás, e não ouve nosso soluçar de criança, e não pondera a perda, nem o ganho.

Já não somos infantes, mas quem esqueceu de nos informar de que crescemos?

Tem dia que a gente acorda e a saudade dá bom-dia.

Valéria Britto
Enviado por Valéria Britto em 07/12/2011
Código do texto: T3377425
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.