verdade

literalmente

ela chegava sorrateira e nua

dama convertida na palidez dos fracassos

moça velha ainda crua

sem sabor delicadeza

quão malvada é a vida!

pescoço pobre de cordão

sem ouro medalha só pele

reveste a alma vazia

na lama sem aceitar o destino

é a vida tão malvada!

mãos grossas feito tantas de estiva

cabelo despenteado

roupa suja já rasgada

ventre aberto é tudo ou nada

cospe o filho que não pariu

e malvada foi a vida!

pela pele enrugada

os sinais da castigada

sina triste de um sol

sol que queima até cratera

esculpida no rebento

onde a sede é mais faminta

sem sombra sem água sem dó

e foi-se a vida malvada

na espera da esperança

titulo maior sem fim

cinderela sim, coitada,

ventre nu boca estreita devassada

na margem do seu alento

príncipe nenhum chegou

e a vida malvada foi-se!

dos sonhos incandescentes

reluzem faiscas dormentes

daquelas pernas tão frias

corre às noites fugidias

e se esbarra no lençol

ouve enfim a voz que grita:

"acorda maria bonita, levanta pra fazer o café"

e o sorriso ainda sujo

da noite lambuzada e sedenta

desperta a alma pequena

é hora de trabalhar...

Marco Carneiro
Enviado por Marco Carneiro em 09/01/2007
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