POEMA DA DESPEDIDA (Quando as Cortinas Abaixarem)
Depois de encenar o grande espetáculo da vida
E as cortinas terem abaixadas
Não existirá mais plateia.
Recolhido no camarim do tempo
E de fronte ao espelho da existência
Minha face mostrará sua palidez
E talvez, quem sabe, um tímido brilho
Mostre o quanto fui feliz nesse palco.
Ao público que me visitará
Não poderei dar-lhe boas vindas,
Minha boca não gargalhará como dantes,
Minhas mãos não mais se estenderão para o cumprimento,
Meus braços permanecerão inertes
E o caloroso abraço não acontecerá;
As pernas não sentirão o chão tantas vezes pisado.
Aos que forem até eu, por favor,
Não derramem lágrimas:
Elas provavelmente cairão sobre mim
E minha maquiagem borrará e serei motivo de risos
E eu ficaria triste por não poder rir junto.
Também peço para que não falem de política:
Eu que durante toda minha atuação a enalteci,
Cheguei ao fim do show vendo o povo como coadjuvante
No espetáculo em que ele era o principal.
Quando chegar o dia de baixar minhas cortinas,
Mesmo que meu espetáculo tenha sido uma tragédia,
Quero-o naquele dia, no última dia, uma comédia
E que alguém depois explique que alterei o scripit
E saberão que encerrei em grande estilo,
Como tem que ser todo fim de temporada.