VELHA VILA VELHA
No ar havia cheiro das flores
Úmidas do amanhecer
Enfeitavam quantos amores
Antigos ou ainda a nascer
Na pele o frio do orvalho
De final da madrugada
Vento balançava o galho
Acordando a passarinhada
Ao longe, o galo e os sinos
Dois violeiros em desafio
Corria com outros meninos
Um banho na beira do rio
Homens seguindo em frente
Muita luta para enfrentar
Às portas alguém sorridente
Acenava a cumprimentar
Cresci e parti para o mundo
Prometi rapidinho voltar
Vida voou num segundo
Não reconheci o lugar
Não tem mais linha de trem
Ruas mandaram asfaltar
Fecharam até o armazém
Riacho não dá pra pescar
Grades tapando janela
No campinho ninguém joga bola
Na pracinha da capela
Gente pedindo esmola
Sem companhia para cantar
Aquietou-se o sabiá
Não tendo a quem assustar
Fugiram Saci e Boitatá
Vêm-me imagens ligeiras
Da velha vila pacata
Quantas noites inteiras
Atravessei em serenata
Um medo me sobrevém
Crio coragem para olhar
Procuro no céu: Ainda bem!
Lá em cima restou o luar