Versos Anêmicos
Mas que destino o de meus passos!
escrever um amor falido
Em ruidosa e simples prosa.
Sentimentos em texto resumido.
Estão tirando a poesia de mim!
E sem isto estou a morrer por dentro.
Como deixar, sem água, pobre jasmim?
Como tirar, do círculo, o centro?
Deus! Estão tirando a poesia de mim!
Teu mundo se farta de minha rima,
Sinto que a cada esquina, dez linhas deixo enfim,
Para olhos cheios de nenhuma lástima.
Não destes a todos os teus ffilhos
O doce poder e dever de amar?
Pois eles, a quem tanto desejei o bem,
Só deixam meus versos a amargar.
Talvez, por tanto desejar que amem,
Tenham surrupiado meus poemas, meu amém
E roubado até minha dor,
Deixando versos vazios de rimas sem cor.
Estão tirando a poesia de mim!
Mande um anjo, por favor, qualquer Querubim!
Que me proteja dessa estranha lógica
E me afaste dessa voraz métrica.
Estão tirando a poesia de mim...
Que posso e tenho dito tantos jeitos de morrer,
Não desejo esse fim a nenhum ser...
Versos anêmicos como claro marfim.
Linhas que cessam antes de ir ao papel,
Falta-me prosa, que dirá estrofe e cordel!
Ou, então, eu não entenda nada deste folhetim
E me falte poetar e lirismo.
Estão tirando a poesia de mim,
Encontro-me silenciosa no abismo.