Silêncios de gritos escondidos

Algumas vezes ouço zunidos de mosquitos

preces intermitentes de repetições vagas

apitos irritantes de decibéis amaldiçoados.

Atritos comoventes como micoses na virilha

pousos forçados de viagens malsucedidas

pedidos incessantes de esmolas encarecidas

estralido de chicote em mãos embrutecidas.

Estrondo de barragens estouradas

espinha de peixe cortando a gengiva.

Algumas vezes falo

silêncios de gritos escondidos

escárnios de autópsias íntimas

ritmos de músicas não compostas

compostos de fragmentos que não se aplicam

profundezas de ralos envelhecidos

velhices ternas de múltiplos homicídios

suturas de órgãos perfurados

alegrias de homens que não nasceram,

alegrias de homens que não viram a morte.

E sobretudo penso

das circunstâncias que me valem

e das escolhas em que minhas ações pesem

Em tudo quero ser consciente, exceto,

do momento em que me julgarem livre.

Wellington Berdusco
Enviado por Wellington Berdusco em 15/03/2012
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