Papéis achados

Papéis achados em banco de trem

contam do poderio bélico de nações ociosas,

madames rechonchudas reclinadas

em canapés aveludados, brincando

com o que não lhes pertence--

Jóias! Mimos! Vidas! Auroras!

Jornais voltam atrás, o vento corriqueiro

de túneis subterrânos se enfia por brechas

por fendas de janelas como escapam as palavras

por entre meus lábios, que eu pensava cerrados.

Essas pontas de vento rearrumam letras,

recombinam sílabas, desviam tramas

como trens descarrilhados.

O papel, mensageiro-celulose, grava

impressões de quem lhe passa os olhos,

vê sua mensagem desfiada, recomposta, transfigurada.

Papéis achados, nem bem mais virgens, contam

estórias mas qual delas verdades,

qual delas lorotas?